Título: Pior fase desde a 2ª Guerra
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2011, Economia, p. 9

Para Angela Merkel, a Europa está diante do maior desafio desde o conflito. A Alemanha propõe saída voluntária de países do euro

A insegurança dos agentes do mercado financeiro em relação à crise da dívida na Zona do Euro, mesmo depois da nomeação de novos líderes na Grécia e na Itália, levaram a chanceler alemã, Angela Merkel, a classificar o atual momento na região como o pior desde a Segunda Guerra Mundial. Enfraquecida politicamente dentro do próprio partido — o União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão) — a chefe de governo aproveitou o congresso da legenda e fez um apelo para que a Alemanha assuma a liderança de um processo para "salvar" o que ela considerou como o mais ambicioso projeto europeu. A intenção de tomar a frente da reforma do euro ficou clara em uma resolução aprovada durante a convenção, que permite ao governo alemão estabelecer normas capazes de permitir a saída voluntária de países do bloco monetário.

Mais enfático, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, explicou que o governo propõe mudanças no Tratado de Lisboa da União Europeia até o fim de 2012 e acrescentou que prefere ver todos os 27 membros da União Europeia assinando as alterações do tratado, mas admitiu que alguns países que não integram o euro já indicaram que se opõem, como a Grã-Bretanha. "Nesse caso, pediria que eles não impedissem os 17 (que compõem a Zona do Euro) de prosseguir", afirmou.

A defesa das reformas na região, feita pelo ministro e por Merkel, são uma resposta às cobranças que a chanceler e sua equipe recebem. Partidários os acusam de terem abandonado ideais conservadores da sigla. "A Europa vive um dos piores momentos desde a Segunda Guerra Mundial, talvez o pior momento. Cada geração tem seu desafio político e a atual enfrenta um teste histórico com esta crise financeira", afirmou a chanceler para quase mil militantes do CDU.

Dependência Em um discurso que ultrapassou as fronteiras alemãs e foi endereçado, indiretamente, a outros líderes europeus, Merkel destacou que o sucesso da Alemanha depende da resistência do projeto político e monetário do euro. "A Eurozona é muito mais do que uma moeda, é um símbolo de meio século de paz, liberdade e bem-estar social", comentou. "Se a Europa vai mal, a Alemanha vai mal. Se o euro fracassar, a Europa vai fracassar", completou.

A chanceler lembrou que, apesar de manter o posto entre as economias mais fortalecidas da União Europeia (UE), a Alemanha depende do bom funcionamento dos demais mercados, uma vez que são os destinos de sua produção. Atualmente, 60% das exportações alemãs ficam nos 27 países membros da UE. "Precisamos da Europa para que a Alemanha fique bem. Nove milhões de empregos dependem diretamente dessas exportações", ressaltou.

Ao exigir reformas na Europa, como já fez aos sócios europeus, Merkel lembrou que as reformulações devem ser traduzidas em mais empenho dos próprios países. "Fazemos parte de uma política interna europeia. Se a Alemanha está disposta a ajudar os países em dificuldade, também espera que façam seus deveres, saneando as finanças públicas", concluiu.