PSDB sai na frente na disputa pelas capitais

 

03/10/2016
Julia Chaib
Eduardo Militão

 

Pouco mais de um mês após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o principal fiador do afastamento da petista, o PSDB, acabou como o maior beneficiário da esperada queda do PT nas eleições municipais. Os tucanos aumentaram a presença nos municípios e tiveram o resultado surpreendente da eleição do empresário João Doria, em São Paulo, com 53,29%, em primeiro turno, vitória pessoal do governador paulista Geraldo Alckmin. De outro lado, em meio a uma avalanche de escândalos de corrupção e após o impeachment, o PT teve a perda de espaço confirmada neste primeiro turno nas cidades brasileiras.

Já o PMDB, do presidente Michel Temer, que apostou em candidatos nas duas principais cidades do país, a capital paulista e o Rio de Janeiro, foi eliminado em ambas. O pleito também foi marcado pelo desinteresse dos eleitores. Em São Paulo, por exemplo, a cada 10 aptos a votar, quatro se isentaram. O índice de votos chegou a 5,29%, os brancos e 11,35%, nulos, além de 21,84% de abstenção, o que soma 3.096.304 de nulos, brancos e abstenções, contra os 3.085.187 obtidos por Doria.

Das 26 capitais, oito tiveram as eleições decididas no primeiro turno: além de São Paulo, Salvador, Natal, Teresina, João Pessoa, Rio Branco, Boa Vista e Palmas. O PT, que antes comandava São Paulo, Goiânia e Rio Branco. O partido só levou a capital de Roraima com a reeleição de Marcos Alexandre e só disputará o segundo turno em uma capital: Recife, que tem João Paulo contra o prefeito Geraldo Julio (PSB). Nas cidades, de forma geral, o PT saiu de 630 prefeituras para 231, 399 prefeituras, uma queda de 63,3% no primeiro turno.

O PSDB aumentou a presença de 686 prefeituras para 767, crescimento de 81 cadeiras. Os próprios tucanos ficaram surpresos com a vitória de Doria em primeiro turno, embora ele já tivesse registrado crescimento para 44% das intenções de voto no dia anterior. “Nem o mais otimista do partido imaginaria isso”, disse um interlocutor da legenda.

A vitória de Doria favorece um tucano principalmente, além do prefeito eleito: o governador paulista Geraldo Alckmin, que encampou a campanha do apadrinhado. Segundo interlocutores do partido, o êxito do empresário coloca Alckmin em outro patamar em relação à briga interna na legenda para concorrer ao Palácio do Planalto em 2018. Alckmin disputa com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e com o senador e candidato derrotado nas eleições de 2014, Aécio Neves, uma vaga na disputa. Em seu primeiro discurso de vitória, Doria endossou a candidatura de Alckmin à presidência em 2018 e disse que é legítima a vontade do tucano de entrar na disputa. “Se for presidente, terá apoio da população brasileira”, disse Doria, seguido pela militância que gritava “Brasil pra frente, Geraldo presidente”.

Presidente do partido, Aécio destacou que a legenda teve o resultado mais expressivo dos últimos anos. “Uma vitória expressiva do PSDB em várias regiões do país, em todas as regiões do país, e em algumas das suas principais cidades, e a derrocada do PT. O PT em determinadas regiões do país está sendo dizimado nessas eleições, com candidatos que sequer conseguiram disputar as eleições”, disse. O PSDB disputará também na terra de Aécio, com João Leite, na segunda fase do pleito.

 

Surpresa

A vitória surpreendeu o próprio candidato a vice-prefeito eleito, Bruno Covas, que, no princípio, se mostrou desesperançoso com a campanha a correligionários. Inicialmente, a campanha de Doria não foi bem avaliada, e o tucano disputava com nomes já conhecidos dos paulistanos, como o próprio Haddad, que acabou subindo no fim da corrida. O tucano disparou nos últimos levantamentos. “Vou governar para todos. São Paulo não é dos paulistas, é de todos os brasileiros”, disse Doria, após saber da vitória. Segundo ele, tanto Haddad, quanto Marta Suplicy (PMDB) e Celso Russomano (PRB) ligaram para parabenizá-lo.

A derrota de Marta na cidade, sem a chance de chegar ao segundo turno no final, também é sintomática para o PMDB, que perdeu também no Rio de Janeiro. O presidente Michel Temer, capitaneou a campanha da senadora, embora não tenha aparecido para fazer campanha.

O PMDB, com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, apostou em Pedro Paulo, que responde a denúncias de agressão contra a pela ex-mulher. Paulo acabou em terceiro lugar na disputa, que deu lugar à corrida entre um candidato conservador, Marcelo Crivella (PRB), e um de esquerda, Marcelo Freixo (PSol). O PMDB tinha duas capitais e, neste primeiro turno, ganhou apenas em Boa Vista (RR), com a reeleição de Teresa Sunita. O partido disputará o segundo turno em cinco capitais, incluindo Goiânia, em que Iris Rezende concorre com Vanderlan Cardoso (PSB). O PMDB perdeu 26 cidades e ganhou o primeiro turno em 989 municípios, frente a 1015, em 2012.

 

767

Número de prefeituras conquistadas pelos tucanos no 1º turno

 

4

em cada 10 eleitores aptos a votar se isentaram nas eleições na capital paulista

 

Correio braziliense, n. 19488, 03/10/2016. Política, p. 2