A amarga derrota petista

 
03/10/2016
Antonio Temóteo

 

Com o triplo de votos em relação ao segundo colocado, João Doria (PSDB) se elegeu prefeito de São Paulo no primeiro turno com a benção de 53,29% dos eleitores. É a primeira vez que isso ocorre na cidade. A vitória arrasadora e inédita sobre os demais candidatos, com mais de três milhões de votos, impôs derrotas significativas ao PT e ao PMDB e fortaleceu os planos do governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), de disputar a Presidência da República em 2018. O alento da esquerda, entretanto, foi a vitória de Eduardo Suplicy (PT) para um posto na Câmara Municipal. Ele foi o vereador mais votado na capital paulista, com 301.446 votos.

O atual prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT), foi o segundo colocado no pleito, com apenas 967.056 votos, o equivalente a 16,7% da preferência dos eleitores. Antes mesmo do fim da apuração das urnas, Haddad ligou para cumprimentar Doria pela vitória. Foi a pior votação de um candidato do PT em São Paulo. A derrota explicita a situação dramática do partido, com líderes acossados pela Operação Lava-Jato e destituído do governo federal com o impeachment de Dilma Rousseff. Haddad chegou ao cargo máximo da administração municipal paulistana em 2012, sob as bençãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Naquela época, após eleger Dilma Rousseff para o primeiro mandato de presidente da República, Lula gozava de prestígio com os brasileiros e repetiu a fórmula de sucesso em São Paulo.

Duplamente réu na Lava-Jato, que apura escândalos de corrupção na Petrobras, Lula perdeu parte do seu capital eleitoral e viu a reeleição de Haddad naufragar. A vitória de Doria também enfraqueceu os planos do PMDB de se fortalecer nas eleições municipais para lançar um candidato à Presidência. Marta Suplicy não decolou durante a campanha, mesmo tendo comandado a prefeitura paulistana em outras oportunidades. A afirmação de que nunca foi de esquerda levou a ira a diversos eleitores e afetou a sua imagem.

 

Comemoração

Em terceiro na disputa ficou o deputado federal Celso Russomanno (PRB), que teve 13,64% dos votos válidos, seguido de Marta Suplicy (PMDB), com 10,14%, e Luiza Erundina (PSol), com 3,18%. Doria comemorou a vitória e disse que governará como um gestor. “Não sou político. Sou um administrador, um trabalhador. O que São Paulo precisa é de uma boa administração. Eu vou governar para todos. Quero o apoio dos jovens para isso. São Paulo não é dos paulistas: é de todos os brasileiros”, comentou o prefeito eleito.

Em pronunciamento no diretório municipal do PT, Haddad evitou fazer uma análise do resultado eleitoral e afirmou que a campanha enfrentou muitas dificuldades. “Tenho a maior honra de ter governado a cidade de São Paulo. Saio da prefeitura com a mesma sensação de dever cumprido com que deixei o Ministério da Educação. Tenho certeza de que estamos deixando um legado, aqui para a cidade de São Paulo, que vai ser preservado. Um número muito expressivo de cidadãos consegue perceber a diferença que isso faria se esse legado for preservado”, afirmou. Vereador mais votado na capital paulista, Eduardo Suplicy lamentou a derrota do candidato a prefeito do PT. “Eu sinto muito que os paulistanos não tenham dado a vitória para o Haddad.”

 

Correio braziliense, n. 19488, 03/10/2016. Política, p. 3