Uma estrela três vezes menor

 
03/10/2016
Eduardo Militão
Julia Chaib

 

Partido da ex-presidente Dilma Rousseff, cassada em setembro, e de boa parte dos principais alvos da Operação Lava-Jato, o PT encolheu em quase três vezes o número de prefeituras conquistadas este ano em relação às eleições de 2012. Se há quatro anos, a sigla conseguiu chegar ao comando de 630 municípios, os resultados de ontem mostram que a legenda terá apenas 231 cidades para dirigir. A perda de 399 prefeituras, ou 63,3%, foi a mais significativa entre as maiores forças políticas do país.

Os números podem variar de acordo com as impugnações na Justiça Eleitoral e ainda falta o resultado do segundo turno, mas a derrota petistas já era esperada dentro da sigla. De largada, o PT saiu com menor número de candidatos. Em alguns casos, foi “barriga de aluguel” em outras chapas, em uma estratégia para evitar danos ainda maiores.

O PT perdeu a cidade de São Paulo, a mais importante do país, para o novato João Doria (PSDB). O prefeito Fernando Haddad conseguiu a segunda posição, mas foi pouco para chegar ao segundo turno. Ainda assim, Eduardo Suplicy foi o vereador mais votado na capital. O partido ainda ficou sem Goiânia (GO), dirigida por Paulo Garcia, que não disputava reeleição. No entanto, conseguiu manter Rio Branco nas mãos de Marcos Alexandre.

Para o deputado Paulo Teixeira, o mau resultado é resultado do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e da “criminalização da legenda”. “O desempenho é fruto de derrota que vimos sofrendo desde o impeachment”, avalia. “O Haddad fez uma boa administração, mas o ambiente e a legislação não ajudaram”, continuou. Segundo Teixeira, as ações da Lava-Jato também contribuíram para os resultados em todo o país. “Você cassa o Eduardo Cunha numa semana e, na outra, prende o Guido Mantega e o (Antonio) Palocci: a seletividade e a ofensiva contra o PT ajudaram nessa derrota.”

Já o PMDB, partido do atual governo federal, ficou com 26 prefeituras a menos, chegando a 989 cidades, uma redução de 2,6%. Mesmo com a realização e o sucesso dos Jogos Olímpicos, a sigla não conseguiu manter o comando no Rio de Janeiro, com a derrota do deputado estadual Pedro Paulo. O ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, Geddel Vieira Lima, minimizou a ausência da sigla nos principais colégios eleitorais. Segundo ele, o presidente Michel Temer está satisfeito com o desempenho dos correligionários.

Geddel afirma que o peemedebista vai manter a postura neutra no segundo turno. “O presidente já não participou no primeiro turno, quando tinha dois partidos da base disputando, e não deve participar no segundo turno.” Para Geddel, “faz parte do jogo” o partido ter ficado fora do segundo turno no Rio e em São Paulo. “No Rio, a gente perde uma hegemonia de muito tempo e, em São Paulo, já não tínhamos essa participação. Eu não vejo resultado de eleição municipal como algo que se deva debruçar com tanta ênfase.”

 

Em crescimento

O PSDB conseguiu 81 prefeituras, um aumento de 11,8%. O salto de 686 para 767 cidades só aumenta os problemas dos caciques petistas que, mais do que nunca, terão que apostar em novas estratégias. Os tucanos conquistaram São Paulo e Teresina. E ainda estão no segundo turno em Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Belém, Maceió, Campo Grande, Cuiabá e Porto Velho.

Outra sigla que teve bom desempenho foi o PSD, que saiu de 495 cidades para 501. “Vamos ficar atentos agora aos movimentos de 2018”, comemorou o líder da legenda na Câmara, Rogério Rosso (DF). Ele disse que o aliado primordial em 2018 é o PMDB do presidente Michel Temer. “Crescemos muito e isso mostra sintonia com a população.”

O PTB, que é mais presente no interior do país, teve uma redução de 49 prefeituras, chegando a 249 cidades — queda de 16%. O partido vai disputar com os tucanos a corrida pelo comando de Porto Velho. É a chance de, ao menos, dirigir uma capital, o que não conseguiu em 2012.

 

Correio braziliense, n. 19488, 03/10/2016. Política, p. 6