PF aponta R$ 725 mil de caixa dois na Bahia

 

05/10/2016
Eduardo Militão

 

A Polícia Federal deflagrou ontem uma operação que investiga se houve de fato caixa dois para o governador da Bahia, Rui Costa (PT), e pagamento de propinas para os ex-ministros das Cidades Mário Negromonte e Márcio Fortes, ambos do PP. Batizada de Hidra de Lerna, a apuração é embasada em dois inquéritos que são desdobramentos da Operação Acrônimo.

Os policiais fizeram ações de busca e apreensão nos endereços de Negromonte, de Fortes, da empreiteira OAS e da agência de publicidade Propeg. A ministra-relatora dos dois casos, Maria Thereza de Assis Moura, autorizou 16 ordens de procura por documentos, mas negou pedidos da Polícia Federal para vasculhar o gabinete do governador Rui Costa, em Salvador, atrás de mídias e papéis.

No primeiro inquérito, a PF suspeita que a OAS tenha pago R$ 725 mil à campanha eleitoral do governador em 2014 sob a forma de caixa dois. A dona da agência Pepper, Danielle Miranda Fonteles, narrou aos policiais em acordo de colaboração premiada que Rui Costa acertou com ela que a empreiteira lhe daria essa quantia para pagar por parte de seus serviços de comunicação durante a disputa eleitoral. Ela apresentou comprovantes bancários e um contrato supostamente fraudulento para comprovar o que disse.

No segundo inquérito, suspeita-se que contratos da Propeg no Ministério das Cidades bancaram propinas a Negromonte. Dos acordos firmados com a Dialog, empresa de Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, teriam saído subornos também para Fortes.

Rui Costa não comentou as afirmações de Danielle Fonteles e disse que recebeu com “estranheza e indignação” a notícia sob a investigação a que responde. O PT da Bahia classificou a ação da PF de “violenta” e assegurou que toda a contratação de fornecedores para as eleições de 2014 foi “regular, legal e legítima”. A OAS não comentou o caso. A Propeg disse que “age com correção” e, por iniciativa própria, presta esclarecimentos aos investigadores desde junho deste ano. Negromonte afirmou ser inocente: “Inexiste qualquer indício material que corrobore as declarações de qualquer colaborador em meu desfavor, muito embora as investigações já se arrastem por mais de dois anos”. O Correio não localizou Fortes.

 

Encontro

De acordo com a colaboração de Danielle Fonteles, o governador Rui Costa teve uma reunião na Bahia com ela durante a campanha de 2014. Ali, ficou acertado que R$ 1,9 milhão aproximadamente seria pago à empresa de publicidade dela, a Pepper, para organizar redes sociais e comunicação pela internet da campanha do petista. Segundo ela, Rui Costa pediu que ela procurasse o tesoureiro da campanha, Carlos Martins, para fazer o acerto.

Martins disse a Danielle que os pagamentos seriam feitos em três partes. A primeira seria paga pelo comitê de campanha, no valor de R$ 633.333,33, como aparece na prestação de contas da campanha no TSE. A segunda parte acabou paga pela OAS, no valor R$ 725 mil em três parcelas, conforme registros bancários apresentados à polícia,  que deveriam ser acertados por meio do diretor Charles Maia. Os R$ 500 mil seriam pagos mais adiante.

Danielle apresentou à PF um contrato com a OAS e e-mails trocados para justificar os repasses. No entanto, disse que fez apenas um serviço de monitoramento, que custou apenas 30% do realizado. O superfaturamento atendeu ao objetivo de receber a parte da campanha. Agora, a PF tenta entender por que a OAS pagou esses valores por fora. Uma das hipóteses é obtenção de contratos no governo. Oficialmente, a empreiteira doou R$ 4,2 milhões para a eleição de Rui Costa, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.

No Ministério das Cidades, um contrato da Propeg de R$ 45 milhões, aditado para R$ 100 milhões, foi obtido a partir da mediação de Bené, segundo ele. Em troca, afirma ter feito repasses ao Negromonte e Fortes. De acordo com declarações e documentos fornecidos pela secretária de Bené, Vanessa Daniela, a Propeg fechou contratos fictícios com as empresas DHT e Colorprint, repassando cerca de R$ 1 milhão para cada uma. A secretária sacou o dinheiro em espécie e entregou a Bené. O empresário afirma que, a partir da DHT, fez pagamentos a Negromonte. Ele não mencionou a Colorprint.

 

Correio braziliense, n. 19490, 05/10/2016. Política, p. 2