Valor econômico, v. 17, n. 4107, 07/10/2016. Política, p. A9

Ex-assessor de Palocci tentou suicídio em cela da PF

Por: André Guilherme Vieira

 

Os comprimidos ingeridos pelo ex-assessor de Antonio Palocci, Branislav Kontic, que tentou suicídio na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba, não foram encontrados durante a revista realizada pelos agentes no dia em que ele ingressou na cela em regime temporário de prisão, conforme apurou o Valor. Kontic e Palocci, ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, foram detidos durante a Operação Omertà, 35ª fase da Lava-Jato, deflagrada em 26 de setembro. Quatro dias depois o juiz Sergio Moro converteu as prisões de ambos em preventivas (por tempo indeterminado) para garantia da ordem pública, atendendo à solicitação da PF. De acordo com o pedido feito pelo delegado Filipe Pace ao juiz Sergio Moro, Palocci e Kontic teriam tentado ocultar provas dos federais que realizaram buscas na sede da empresa do ex-ministro, a Projeto Consultoria, em São Paulo.

Kontic faz tratamento psiquiátrico e há anos usa medicamentos antidepressivos controlados. No sábado, ingeriu cerca de 40 comprimidos de uma só vez. Prisioneiros de celas vizinhas perceberam que o ex-assessor de Palocci estava passando mal e começaram a gritar pelos carcereiros. Os agentes da custódia então acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu).

Depois de avaliarem Kontic, que estava desacordado, os paramédicos constataram que ele precisaria ser internado e o removeram para o hospital Santa Cruz, onde foi tratado e ficou em observação. Na segunda-feira, após receber alta, Kontic foi transferido para o Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, unidade prisional que abriga outros célebres personagens da Lava-Jato, como Marcelo Odebrecht e José Dirceu.

No sábado de manhã, o delegado Igor Romário de Paula pediu ao juiz Moro para autorizar a transferência de Kontic ao CMP, "onde permanecerá sob acompanhamento especializado e à disposição deste juízo", informou.

Oito minutos depois o magistrado autorizou a remoção.

A assessoria de imprensa da PF em Curitiba informou, por telefone, "que a partir do recebimento da informação de que um detento havia passado mal, o Samu foi chamado e o preso foi encaminhado a um hospital em Curitiba".

O advogado de Kontic, José Roberto Batocchio, disse que não se manifestaria sobre o episódio.

A Lava-Jato afirma que Palocci, com ajuda de Kontic, recebeu R$ 128 milhões em propinas da Odebrecht entre 2006 e 2013, em troca da interferência em decisões do governo para beneficiar o grupo. A defesa de ambos nega.