O calendário de Gim na CPI

 
06/10/2016
Eduardo Militão

 

O acionista e ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro afirmou ao juiz Sérgio Moro que o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo e o ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) ofereceram, em troca de propina, maneiras de deixar “moroso e ineficiente” o trabalho investigativo de CPIs da Petrobras sobre a construtora, atuando de acordo com seu calendário. As afirmações foram prestadas nesta quarta-feira em alegações finais ao juiz da Operação Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, em ação penal em que o empresário responde em Curitiba, com outros executivos de empreiteiras, o ex-parlamentar e réus apontados como operadores.

O ex-presidente da OAS disse ao magistrado que, ao confessar seus crimes e apontar outros culpados, colaborou com a ação penal. Por isso, pediu a redução de punições e para ser solto. Assim como Gim, Léo Pinheiro está detido no Paraná por ordem de Moro. O Ministério Público afirma que o ex-senador solicitou R$ 35 milhões em propinas a sete empreiteiras, obtendo pelo menos R$ 7,2 milhões, em troca de blindagem a empresários nas CPIs da Petrobras de 2014 no Congresso. Gim confirma o recebimento do dinheiro, mas afirma que tudo se tratou de doações eleitorais sem oferecer nada em troca aos empresários. A defesa de Gim afirmou a Moro ontem à noite que as acusações se baseiam em palavra de delatores, mas que as afirmações foram prestadas após os fatos, para compor uma narrativa conveniente.

Segundo a defesa do empreiteiro, ele deu detalhes da contrapartida ao pagamento de propinas. Uma das medidas era atuar usando o calendário de forma contrária às investigações. “Eu continuei na residência do senador com Gim Argello e com o senador Vital do Rêgo”, narrou Pinheiro, em seu depoimento a Moro, reiterado ontem pela defesa. “Eles me falaram e eu perguntei o que poderia ser feito: ‘Olha existem um mecanismo de condução de CPIs, tá certo, onde é feito um plano de trabalho em decorrência desse plano de trabalho, são programadas uma série de coisas, calendários de reuniões, oportunidade de saber, aprovação de requerimento dos depoentes’ e me relataram algumas coisas que eu já tinha conhecimento de outras CPIs.”

Os advogados destacam que depoimentos e documentos — revelados em primeira mão pelo site do Correio na segunda-feira — comprovaram o envolvimento de Vital e do relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS). Notas fiscais da Construtora Planície apontam o repasse de R$ 1,5 milhão de caixa dois para o ex-senador do PMDB da Paraíba. O ministro do TCU reafirmou ontem que não recebeu recursos da Planície para a campanha eleitoral de 2014: “Jamais negociei, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal indevida”. Maia tem negado as acusações.

A defesa do publicitário Paulo Roxo afirmou que o fato de admitir buscar 200 mil euros em dinheiro vivo com Júlio Camargo, no Rio de Janeiro, em 2014, e entregá-los a Gim em Brasília não significa que ele cometeu crime. “Não há prova alguma de que tais valores não tenham sido contabilizados, e, ainda, de que Paulo, ao aceitar transportar o envelope, tenha participado de crimes antecedentes (pelo contrário, a prova é farta no sentido oposto), ou tenha consciência de que tais delitos tenham ocorrido”, explicou o advogado Daniel Gerber.

 

Correio braziliense, n. 19491, 06/10/2016. Política, p. 3