Título: Desafio do dia é se explicar no Congresso
Autor: Jeronimo, Josie; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 17/11/2011, Política, p. 4

Abandonado pelos próprios correligionários, Carlos Lupi precisa convencer os senadores de que não mentiu

A oposição não precisou fazer nenhum esforço para emplacar o requerimento que levará o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, à Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado hoje para prestar esclarecimentos sobre a utilização de aeronave particular providenciada pelo presidente de uma ONG beneficiada com recursos da pasta que comanda. A bancada governista do Senado não se mobilizou para evitar a ida de Lupi ao Congresso, apenas solicitou que o requerimento, de autoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), fosse um convite, e não uma convocação.

Na iminência da saída de Lupi da Esplanada, o presidente da CAS, senador Jayme Campos (DEM-MT), apressou a agenda para hoje. "Não há nenhum impeditivo de nós convidarmos o ministro para vir a essa comissão amanhã (hoje), porque semana que vem eu acho que Inês é morta", disse.

Na audiência de hoje, o ministro do Trabalho não contará com a retaguarda dos parlamentares governistas para se proteger dos questionamentos da oposição. Parlamentares de seu próprio partido não poupam críticas à conduta de Lupi perante as novas denúncias que atingiram sua gestão frente ao ministério. O ministro negou, durante audiência na Câmara, na semana passada, ter usado avião providenciado pela ONG Pró-Cerrado em viagens no interior do Maranhão e, dias depois, a revista Veja publicou matéria e vídeo mostrando Lupi saindo da aeronave que teria sido alugada pelo presidente da entidade, Adair Meira. "Não interessa o partido, não interessa a pessoa, interessam os fatos. Os fatos são graves. A sociedade brasileira aguarda esclarecimentos. Partido político não serve para empregar pessoas", reprovou o senador Pedro Taques (PDT-MT).

O discurso da senadora Ana Amélia (PP-RS) também foi termômetro do clima que aguarda Lupi hoje no Senado. "A vinda do ministro Lupi é inadiável pelo acúmulo de denúncias. O apoio dos senadores governistas ao requerimento é um sinal positivo e muito claro de que é interesse do próprio governo que o ministro preste, com urgência, os esclarecimentos necessários. Sempre que um ministro está envolvido em denúncias, fica difícil para o governo levar adiante os programas do ministério. A paralisia não interessa ao governo."

Nova convocação Na volta do feriado, os deputados da oposição também organizaram a linha de frente contra a permanência de Lupi. Em uma manobra da oposição, a Comissão de Fiscalização e Controle (CFC) da Câmara aprovou ontem a convocação do ministro e do ex-secretário de Políticas Públicas de Emprego, Ezequiel Nascimento.

A aprovação da convocação ocorreu depois que a bancada governista recusou acordo com a oposição e rejeitou o convite para que Adair Meira fosse depor no colegiado. "É preciso desmontar o palco armado pelo ministro Carlos Lupi em sua última aparição nesta Casa", disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que apresentou o requerimento para convidar Adair Meira, além do ex-chefe de gabinete de Lupi Marcelo Panella e o ex-coordenador-geral de Qualificação do ministério Anderson Alexandre dos Santos. A principal preocupação do governo era evitar a ida de Adair Meira à comissão. A bancada aliada pediu votação nominal e impediu a aprovação do convite. Os depoimentos, entretanto, ainda não têm data marcada.