Tucano se apoia em Alckmin e no mote de ‘gestor’

Pedro Venceslau

02/10/2016

 

 

Estreante - Doria vira candidato do PSDB pelas mãos do governador e explora desgaste da classe política.

Na manhã de sexta-feira, penúltimo dia do primeiro turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo, um integrante da coordenação de campanha de João Doria enfileirou dezenas de folhas de papel em cima do balcão onde está a recepção do comitê do tucano, localizado em uma casa espaçosa de dois andares na Avenida Europa.

Cada um deles tinha um endereço que representava uma região da cidade e estava preenchido com uma série de itens.

Ao lado do nome de uma rua em Cidade Tiradentes, por exemplo, lia-se “corpo a corpo com 40 pessoas. Bandeiras”.

Já no papel reservado ao Capão Redondo constava a seguinte inscrição digitada: “100 carros.

Bandeiras. Adesivaço”. O correligionário responsável pelos documentos usava o material como referência enquanto ligava para líderes do PSDB e vereadores espalhados pela capital.

Da Brasilândia, no extremo norte, a Marsilac, extremo sul, passando pela Praça Pan-americana, em Pinheiros, não houve uma região da cidade que tenha ficado descoberta pela equipe de mobilização e logística do empresário que estreia em uma disputa eleitoral, negando o título de “político” e afirmandose como “gestor”. Hoje, lidera todas as pesquisas.

Se fossem necessárias três palavras para resumir a campanha de Doria elas seriam organização, disciplina e dinheiro. Afilhado político do governador Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB foi o que mais arrecadou e é também o que chega à reta final do primeiro turno com a maior dívida de campanha.

Foram R$ 6,9 milhões de receita para um total de despesas contratadas que já ultrapassa os R$ 13 milhões.

Isso tiraria o sono de tesoureiros de outras campanhas, mas não chega a ser um problema para Doria. Ele é o principal doador de sua própria campanha, com R$ 2,9 milhões (46,8%) de recursos próprios aportados até agora. O PSDB repassou R$ 1,5 milhão. A maior doação individual, excetuando a do próprio candidato, é a de Renato Feder, que doou R$ 120 mil (1,9%).

Dono de um patrimônio de R$ 180 milhões, ele já avisou aos fornecedores que vai pagar do próprio bolso se as doações não cobrirem a despesa total. O próprio Doria estabeleceu um teto de R$20 milhões, mas hoje seus assessores falam em R$ 15 milhões.

Não foi apenas o dinheiro que fez o estreante começar na ponta de baixo da tabela e chegar como favorito no dia da votação. O engajamento de Alckmin, que acumula mais de década no poder em São Paulo, não encontra precedentes na bem sucedida história do PSDB no Estado.

Primeiro, ele escalou seus melhores operadores políticos para atropelar nas prévias o vereador Andrea Matarazzo, o favorito da “república de Higienópolis”, grupo que reúne tucanos como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Alberto Goldman e Aloysio Nunes Ferreira.

Em seguida, atuou diretamente para reunir no palanque de Doria uma inédita coligação de 13 partidos, que lhe garantiu o maior tempo de TV.

Sempre de maneira discreta, o governador também franqueou ao aliado sua influência política entre lideranças religiosas, sindicalistas e representantes de movimentos sociais que são afinados com o Palácio dos Bandeirantes.

Com dinheiro em caixa e retaguarda política, Doria montou uma estrutura própria, chamada Casa do Vereador, para atender aos 498 candidatos das 13 siglas coligadas. A eles foram oferecidos uma pacote que inclui assessoria jurídica, de imprensa, material de campanha e apoio institucional. A estratégia agressiva do empresário chamou atenção do Ministério Público Eleitoral, que passou a acompanhar seus passos.

Nomeado pela Procuradoria Regional Eleitoral para o caso, o promotor José Carlos Bonilha não deu trégua e representou a campanha diversas vezes e por motivos variados.

Decisão. O MP acionou a campanha por um jantar que teria sido pago por pessoas jurídicas, uso de cavaletes nas prévias, uso de um slogan que foi usado por uma secretaria de governo em 2011, nomeações de secretários em troca de apoio político, visitas a hospitais.

Diante da ofensiva, Doria decidiu, no início de agosto, ter uma conversa olho com olho com o promotor. “Fiz uma visita de cortesia. Fui sozinho. Foi um encontro afável e transparente”, conta o empresário.

No dia 26, porém, o MP protocolou uma ação pedindo a cassação da chapa do PSDB por abuso de poder econômico. Os advogados do tucano dizem que as acusações “são frágeis e carecem dos mínimos elementos probatórios”. A decisão sairá no 2.º turno.

Pirituba. O candidato do PSDB, João Doria cumpre agenda em feira livre, na Avenida Elísio Cordeiro de Siqueira, na zona oeste de SP

Jardins e Guaianases. Doria durante caminhada no Jardim Paulista e com eleitora na zona leste

Convenção. Doria em evento do PSDB municipal, entre Geraldo Alckmin e Bruno Covas, candidato a vice

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QUEM É

JOÃO DORIA

CANDIDATO DO PSDB À PREFEITURA

Nasceu em 16 de dezembro de 1957. É filho de João Doria, que em 1964 foi cassado e perdeu todo o patrimônio no exílio. É empresário, publicitário, jornalista, político e apresentador de TV. Fundou e preside a Lide, Grupo de Líderes Empresariais, com mais de 400 empresas, que juntas representam cerca de 40% do PIB privado nacional. Concorre a uma eleição pela primeira vez. João Doria foi presidente da Paulistur, no governo Mario Covas, e presidente da Embratur, no governo José Sarney, ambas estatais da área do turismo. Seu signo é Sagitário.

 

O Estado de São Paulo, n. 44910, 02/10/2016. Política, p.A6