PT já busca frente de esquerda com PSOL

Ricardo Galhardo e Vera Rosa

04/10/2016 

 

 

Partido discute apoio mútuo também com PDT e PCdoB em 5 capitais no 2º turno.

A derrota avassaladora do PT na eleição de domingo fez avançar um movimento interno para a criação de uma frente eleitoral de partidos de esquerda no segundo turno. Depois de perder a Prefeitura de São Paulo e encolher significativamente em todo o País, o PT agora procura uma alternativa pela própria sobrevivência política.

O presidente do partido, Rui Falcão, se reuniu ontem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o posicionamento nas cidades onde haverá segundo turno. Segundo relatos de interlocutores, Falcão sugeriu que o PT anuncie apoio irrestrito ao candidato do PSOL no Rio, Marcelo Freixo, e em Belém, Edmílson Rodrigues.

A estratégia pode ser o primeiro passo para a criação de uma frente de esquerda na qual o PT, o PSOL, o PDT e o PCdoB tendem a se apoiar mutuamente nas capitais que ainda estão em disputa. O PT chegou ao segundo turno no Recife, o PDT ainda está no páreo em Fortaleza e o PCdoB, em Aracaju.

“Este é o momento de construir a frente, pois existe um motivo concreto para esses partidos, que é a disputa nessas cinco cidades”, disse Celso Marcondes, diretor do Instituto Lula.

Marcondes afirmou que a ideia é formar uma “frente estratégica, não só para concorrer em eleições, e horizontal, sem partidos hegemônicos”.

Lula viajará hoje para o Rio, onde vai participar de evento da Intersindical, mas não há, ao menos por enquanto, previsão de encontros políticos. Interlocutores do ex-presidente observam, porém, que ele é simpático à ideia da frente. 

Congresso. O inventário dos erros que levaram ao colapso do PT nas eleições começará a ser feito amanhã, numa reunião da Executiva Nacional, em Brasília.

A corrente Mensagem ao Partido apresentará um documento intitulado “Muda PT”, no qual defende a convocação imediata de um novo Congresso petista, com o objetivo de trocar a direção da legenda e alinhavar um novo programa.

“O PT encerra um ciclo iniciado em 2002 e precisa fazer um balanço dos erros cometidos para se reabilitar e se reapresentar à sociedade”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (SP), que foi tesoureiro da campanha do prefeito Fernando Haddad e é um dos vice-presidentes do partido.

Teixeira defendeu, no entanto, uma repactuação interna, a fim de reconstruir o PT, abalado por uma sucessão de crises, que culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e com a perda de mais da metade das 635 prefeituras conquistadas em 2012.

Naquele ano, o PT foi o partido que mais recebeu votos (17,2 milhões). Nesta eleição, porém, obteve apenas 2,2 milhões de votos, despencando para o 10.º lugar no ranking.

“Houve uma captura do PT pela institucionalidade e o partido se afastou das suas origens, mas talvez esse período fora do poder nos ajude a recuperar o convívio com nossa base social”, argumentou Teixeira.

Para o professor de Filosofia Política Aldo Fornazieri, a direção do PT deveria renunciar.

“O partido vive uma crise política e moral. Se nada for feito, caminha para uma divisão inexorável”, disse ele. “No mensalão, a cúpula do PT não fez autocrítica e, no impeachment, ficou acovardada. Agora, houve esse massacre nas urnas. Os generais do PT não têm mais exército.”

 

Pressão. Sem saber exatamente o rumo a seguir diante do agravamento da crise, os dirigentes do PT procuram nomes para compor a nova direção. Nesse cenário, aumenta a pressão para que Lula assuma o comando do partido, embora ele seja réu da Lava Jato. Se for condenado em segunda instância, o ex-presidente se tornará “ficha-suja” e não poderá concorrer ao Palácio do Planalto, em 2018.

“Lula é o nome capaz de promover essa repactuação no PT”, afirmou Teixeira. “Esses processos contra ele têm conteúdo político. Querem retirálo da disputa presidencial.” Ainda nesta semana, Lula vai iniciar uma rodada de conversas com as principais forças do PT para articular a troca da direção.

Ele ainda resiste à ideia de presidir o partido.

“Talvez esse período fora do poder nos ajude a recuperar o convívio com nossa base social”

Paulo Teixeira, deputado e um dos vice-presidentes do PT.

 

O Estado de São Paulo, n. 44912, 04/10/2016. Política, p.A8