Valor econômico, v. 17, n. 4142, 30/11/2016. Brasil, p. A4

Governo prepara campanha sobre reforma da Previdência

Por: Cristian Klein

 

O governo federal prepara uma ofensiva nos meios de comunicação para convencer a população sobre a necessidade da reforma da Previdência, afirmou o secretário adjunto da Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Fazenda, José Edson da Cunha Júnior. A campanha deve ser lançada na semana que vem, e as principais ideias-chaves estão sendo fechadas pelo secretário de Previdência, o economista Marcelo Caetano, com uma equipe de comunicação.

A pendência é o timing do lançamento da propaganda, depois da crise que resultou na demissão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, informou Cunha Júnior ao Valor, depois de participar, no Rio, da abertura de seminário promovido pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) e pelo Sindicato Nacional das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Sindapp).

O diretor-presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, também destacou que o maior problema para a reforma da Previdência é a comunicação. Em sua opinião, a população mais jovem, que correria o risco de não receber os benefícios no futuro, não participa da discussão, que estaria sendo dominada pelos aposentados, por quem está perto de se aposentar e por dirigentes sindicais. Por causa desse grupo, mais mobilizado, os políticos teriam resistência à reforma, pelo medo de perderem voto. A ideia da retirada de direitos - e não a mudança demográfica e a possibilidade de o sistema ruir - prevalece no debate público, diz Pena Neto, para quem a "conta não fecha" - o déficit da Previdência foi de R$ 85 bilhões em 2015. As novas gerações, além de ficarem sem os benefícios, terão que arcar com os custos da manutenção do modelo atual, disse. Ele afirmou que até na ditadura do general Augusto Pinochet, no Chile, a necessidade de comunicação se impôs. "Eles fizeram uma reforma remendada e, mesmo numa ditadura, onde passaria qualquer coisa, houve um esforço extraordinário de convencimento da população", disse.

A reforma da Previdência e a Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um teto de gastos para o Orçamento da União são os dois grandes projetos do presidente Michel Temer para conter a crise fiscal.

Na palestra de abertura, sobre ética e compliance, o filósofo Luiz Felipe Pondé citou o caso de Geddel - acusado de defender interesse particular num empreendimento na Bahia - como exemplo do potencial de Temer jogar o país numa "crise terrível", em 2017, e acender de novo o barril de pólvora que levou ao impeachment da petista Dilma Rousseff.

Pondé, conhecido crítico do PT, disse que enquanto o partido é responsabilizado por algo criminoso e grandioso e "se ferra pela quebra da Petrobras ", Temer mancha sua imagem por causa de um apartamento, que "é coisa de ladrãozinho pequeno". "Alguém deveria dar aula de compliance para o governo Temer. A função dele é simplesmente não fazer muito barulho, deixar a gente chegar até 2018, sem mais trauma. Se ele conseguir melhorar um pouquinho a economia, aleluia. Mas ele não vai conseguir fazer isso, agindo desse jeito. Já está começando a chamar sobre ele o ódio da imprensa, sendo que a camada média da mídia é toda petista e só está esperando o momento para dar o bote. E aí, se ele gerar um outro processo de insegurança no país, isso vai jogar o país numa crise econômica, de novo e pior, e a gente vai virar uma nau dos insensatos até 2018", disse, horas antes de Brasília virar palco de protestos violentos, com manifestantes à direita e à esquerda.

Questionado se a reforma da Previdência levará a uma privatização do sistema, com aumento da previdência complementar, Cunha Júnior argumentou que esta é a saída para desonerar as contas públicas e "instrumento mais eficaz de formação de poupança de longo prazo".