Valor econômico, v. 17, n. 4141, 29/11/2016. Política, p. A6

Operação da PF mira governador do Tocantins

Por: Letícia Casado

 

A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Reis do Gado, com foco no governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB). A ação visa investigar esquema de lavagem de dinheiro por meio da dissimulação e ocultação dos lucros ilícitos no patrimônio de membros da família do governador. A estimativa é que cerca de R$ 200 milhões tenham sido lavados, grande parte por meio da compra de gado.

O governador Miranda é alvo de mandado de condução coercitiva, ainda não cumprido, apurou o Valor.

A relatoria da ação está com o ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça.

A investigação apontou um esquema de fraudes em contratos de licitações públicas com empresas de familiares e pessoas de confiança do governador. "A ocultação do dinheiro desviado ilicitamente era feita por meio de transações imobiliárias fraudulentas, contratos de gaveta e manobras fiscais ilegais dentre os quais a compra de fazendas e de grandes quantidades de gado. Parte do valor teve por destino a formação de caixa dois para campanhas realizadas no Estado", informa a PF por meio de nota.

"Chamou atenção dos policiais o volume de algumas transações financeiras do grupo que, pela sua desproporcionalidade, denotam claramente a intenção de dissimular as vultosas movimentações ilícitas do grupo. Em um dos casos foi identificada um contrato de compra de gado cujo volume, segundo a perícia realizada, não caberia sequer dentro da propriedade onde pretensamente deveriam se encontrar o rebanho", diz o texto. Os investigadores batizaram a técnica como "Gados de Papel".

Participam da operação cerca de 280 policiais federais. Ao todo estão sendo cumpridos 108 mandados judiciais expedidos pelo STJ sendo, oito de prisão temporária, 24 de condução coercitiva e 76 de busca e apreensão nas cidades de Palmas e Araguaína no Tocantins, Goiânia, Brasília, Caraguatatuba (SP) Canãa dos Carajás, Redenção, Santa Maria, São Felix do Xingu e Sapucaia (PA). Os investigados responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato, corrupção passiva, fraudes à licitação e organização criminosa.

O nome da operação "Reis do Gado" foi dado em razão de os principais investigados serem grandes pecuaristas no Estado do Pará e o gado era a destinação de grande parte do dinheiro desviado, onde se operava verdadeira lavagem de dinheiro, segundo a PF.