Valor econômico, v. 17, n. 4141, 29/11/2016. Política, p. A7

Possível veto a anistia não desarma mobilizações de rua

Em Brasília, Manifestantes fazem ato contra a PEC e Temer

Por: Cristiane Agostine

 

A promessa do presidente da República, Michel Temer, de barrar a anistia a crimes de caixa dois não foi suficiente para desmobilizar os manifestantes que marcaram um protesto para domingo contra a medida. O "Vem Pra Rua", um articuladores das manifestações em favor do impeachment de Dilma Rousseff, manterá o ato. O grupo afirmou que protestará também contra o "jeito corrupto de fazer política", mas disse que o evento não será para atacar as denúncias de irregularidades contra o presidente e nem para pedir o "Fora Temer".

Para o líder do "Vem Pra Rua", Rogério Chequer, foi o Congresso que articulou a proposta de anistia e o presidente "teve que interferir" ao prometer o veto se a medida for aprovada. "É um absurdo o que o Congresso fez", disse Chequer, afastando o Planalto de possíveis negociações em torno da medida.

Em meio à crise política envolvendo a atual gestão federal, o "Vem Pra Rua" afirmou que não reforçará o coro em favor do impeachment de Temer, como defendem movimentos sociais, Psol, PT, PCdoB e PDT. As acusações feitas pelo ex-ministro Marcelo Calero contra Temer e contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima, por suposto uso do cargo para interesses particulares, não devem ser exploradas pelos organizadores do protesto. Segundo Chequer, não há motivo para o impeachment. "Uma coisa é cobrar o governo, exigir medidas. Outra é pedir o impeachment de qualquer jeito. Não vamos nos precipitar. Seria uma irresponsabilidade com a economia", afirmou o líder do Vem Pra Rua, que organiza o ato do domingo. Mesmo com a queda de seis ministros em seis meses, Chequer disse que o "nível de instabilidade política" do governo Temer é diferente em relação ao do governo Dilma no início deste ano. Para o líder do "Vem Pra Rua", o cenário econômico também "já mudou", apesar do aumento do desemprego.

Além da anistia, a manifestação defenderá a Operação Lava-Jato; o fim de privilégios como aposentadorias especiais; cobrará a celeridade do Supremo Tribunal Federal no julgamento de processos contra políticos e a rejeição ao projeto que altera a lei de abuso de autoridade.

No domingo, movimentos sociais fizeram um grande protesto em São Paulo contra a anistia, contra a PEC que cria um teto para o gasto público e defenderam o "Fora Temer". Apesar da pauta comum contra a anistia ao caixa dois, não há perspectiva de os grupos que pediram a saída de Dilma se juntarem àqueles que defenderam a ex-presidente, em um eventual protesto conjunto contra Temer. Não há disposição de nenhum dos lados.

Hoje, movimentos sociais e manifestantes contrários ao governo Temer marcaram manifestações em Brasília contra a PEC do teto, que limitará os investimentos sociais e é classificada pelas entidades populares como "PEC do fim do mundo". O ato deve se transformar em um protesto contra o presidente, pelo "Fora Temer", segundo movimentos como MTST, UNE e CUT. Nesta semana, as entidades populares e juristas devem protocolar um pedido de impeachment de Temer no Congresso, em uma ação articulada com o apoio do PT.

No dia 11, as entidades populares e partidos de esquerda planejam voltar às ruas em São Paulo, em um ato com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do Uruguai José Mujica.