Temer visita Macri e pressiona Venezuela

Rodrigo Cavalheiro

04/10/2016 

 

 

Agenda de presidente em Buenos Aires põe retomada comercial como prioridade.

A primeira das quatro perguntas que os presidentes de Brasil e Argentina responderam ontem na Quinta de Olivos, residência oficial do líder argentino, foi sobre um tema que a chancelaria brasileira garante não ter ocupado um minuto da reunião prévia entre ambos.

Questionados sobre Venezuela, Michel Temer e Mauricio Macri reforçaram a rota de suspensão se o país não acatar a normativa do Mercosul até 1.º de dezembro.

O componente novo foi justamente a apresentação do debate como um tema “superado”, que não deveria roubar tempo de assuntos como diminuição de travas ao comércio exterior e avanços em negociação com União Europeia e Aliança do Pacífico.

“A questão da Venezuela nem foi discutida porque já foi tomada uma decisão, não se dedicou um minuto à Venezuela.

Já está todo resolvido o caminho.

O Macri assume em seguida a presidência do Mercosul, porque o primeiro semestre do ano que vem é da Argentina”, disse o chanceler brasileiro, José Serra, antes de embarcar para o Paraguai, último trecho da primeira viagem de Temer pela região, dedicada a visitar os países que mais respaldo lhe deram após o impeachment.

O chanceler exaltou a fixação de pontos para ampliar o livre comércio no Mercosul e o fortalecimento de fronteiras. Foi fechado um acordo para estimular as exportações por pequenas e médias empresas e outro para facilitação do comércio.

Serra disse que uma ajuda do Vaticano, de Cuba e dos EUA na crise venezuelana seria bem-vinda.

“Há 700% de inflação, desabastecimento de mais de 90% nos medicamentos, falta de alimentos e violação de direitos humanos. Queremos uma solução, mas não está em nossas mãos”, concluiu.

Ao responder sobre Caracas, Temer havia exaltado o consenso alcançado “agora com a presença do Uruguai”. Ele disse estar preocupado com a preservação dos direitos políticos e humanos.

Macri reforçou que se Caracas não cumprir as normas “perderá as condições de membro ativo do Mercosul”. “Estamos muito mais preocupados com a violação dos direitos humanos e a não aceitação do governo sobre o referendo que se propôs”, disse Macri, referindo-se à votação que poderia abreviar o mandato de Nicolás Maduro.

Colômbia. Os dois presidentes opinaram em linha semelhante sobre os próximos passos nas tratativas de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Lembraram do resultado apertado no referendo de domingo, em que o acordo de paz foi derrotado, para defender mais negociação.

“É preciso que continue o cessar- fogo, é fundamental para se encontrar uma alternativa. O resultado foi muito apertado. Demonstra que há muita gente que acredita no acordo. Também que muita gente que votou contra quer acordo, mas em outras bases”, disse Macri, após Temer ressaltar a diferença pequena.

PARA LEMBRAR

País tornou-se um problema

A situação da Venezuela no Mercosul tem se deteriorado sensivelmente desde que a crise econômica e social no país se agravou, a partir de 2013. O país vizinho tem sido acusado de violações constantes de direitos humanos, incluindo prisões de líderes da oposição e detenções sem justificativa de manifestantes contrários ao governo chavista. Após as mudanças de governo no Brasil e na Argentina, a pressão sobre Caracas aumentou, chegando a impedir que os venezuelanos assumissem a presidência rotativa do bloco – a previsão era de que isso ocorresse este ano, mas acordos foram feitos nos bastidores para evitar a passagem do comando. Na frente política, vizinhos pressionam a Venezuela para que convoque ainda este ano o referendo revogatório do mandato de Nicolás Maduro, instrumento previsto pela Constituição venezuelana.

 

O Estado de São Paulo, n. 44912, 04/10/2016. Internacional, p.A13