A prática de candidatos a vereador de se beneficiar do parentesco com deputados estaduais para “turbinarem” suas campanhas não passou despercebida pela fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). Há pelos menos três casos de pais e um de marido de candidata que disponibilizaram a mão de obra de funcionários de seus gabinetes para dar uma “forcinha” aos filhos e esposa. Segundo o coordenador da Fiscalização Eleitoral do estado, Marcello Rubioli, trata-se da prática de nepotismo cruzado, o que caracteriza crime eleitoral de abuso de poder político e econômico.
— Na maioria dos casos, são pais fazendo campanha para os filhos, usando inaugurações públicas para citar, indiretamente, o nome dos filhos, ou mesmo o uso de funcionários de seus gabinetes para alavancar a campanha dos filhos e da esposa — explicou Rubioli.
Há pelo menos dez investigações deste tipo em andamento no TRE-RJ. Para Rubioli, os políticos tentam usar de artifícios para ludibriar a fiscalização. Foi o caso da vereadora candidata à reeleição Vera Lins (PP). Segundo o TRE, foram instaladas faixas padronizadas em torno de uma obra da Cedae, na Penha, onde apareciam agradecimentos pelas “melhorias no abastecimento” a uma pessoa identificada pelo apelido de “Maninho”. Logo abaixo, na faixa, havia o slogan usado pela candidata: “Agora é a Vera!”
Uma investigação revelou que “Maninho” era funcionário do gabinete do marido dela, o deputado estadual Dionísio Lins (PP). Procurada pelo GLOBO, Vera Lins não foi encontrada.
—É a evolução do assistencialismo. Um novo degrau para mascarar os abusos de poder político — afirmou Rubioli.
O globo, n. 30371, 01/10/2016. País, p. 9