Valor econômico, v. 17, n. 4138, 24/11/2016. Política, p. A5

Planalto avalia que Geddel é o mal menor

Ministro ficou no cargo numa tentativa de garantir aprovação da PEC do teto dos gastos neste ano

Por: Raymundo Costa

 

Dos males, o menor. Entre tirar o secretário de Governo, Geddel Vieira Lima, e desarrumar a base de apoio do governo no Congresso, o presidente Michel Temer preferiu assumir o desgaste e manter o ministro no cargo. O presidente está convencido de que não pode virar de ano sem aprovar definitivamente a PEC do teto de gastos e deixar encaminhada a reforma da Previdência, sob pena de piorar as expectativas sobre o futuro da economia e de seu governo.

Geddel é amigo de mais de 20 anos de Temer e integra o grupo de ministros mais próximos do presidente. O Palácio do Planalto considerou um erro do ministro procurar um colega para tratar de assunto que envolve seu interesse pessoal, mas nada tão grave que justifique seu afastamento do governo. A mudança não só poderia desarrumar a base como seria difícil achar e encaixar alguém com o perfil de Geddel na coordenação política.

O substituto de Geddel sairia provavelmente da base de apoio do governo na Câmara, hoje estimada em 415 deputados. Mesmo reduzindo-se as opções a algo em torno de 50 deputados, ainda assim seria enorme a chance de a escolha recair sobre algum nome citado na delação premiada da construtora Odebrecht, sacramentada ontem na Procuradoria-Geral da República. É outro abacaxi para descascar quando forem conhecidos os termos da delação mais esperada do ano.

Geddel mostrou que tem força e grande capacidade de articulação política no Congresso. Após um fim de semana de denúncias na imprensa, o ministro conseguiu manobrar o apoio dos partidos e dos líderes da base aliada do governo. Especialmente na Câmara, de onde veio a solidariedade de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, mas também do presidente do Senado, Renan Calheiros.

Ontem, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara recusou uma proposta da oposição de convocação do ministro para dar explicações sobre o caso. Por maioria folgada, 17 a 3 votos. O ministro mostrou força entre os antigos colegas (Geddel está sem mandato parlamentar), mas foi obrigado a sacar da caderneta de poupança.

A expectativa do Palácio do Planalto é que a Comissão de Ética da Presidência recomende uma punição mais branda que a demissão do ministro. Algo como uma advertência. Caso contrário, restará Temer acatar ou não a recomendação, em mais um fator de desgaste para um governo fraco que vê o tempo avançar sem respostas positivas da economia.

Segundo um colaborador do Palácio do Planalto, o momento não é de paz, é de guerra. Por isso o presidente não tem como abrir mão agora de Geddel, precisa manter a ofensiva no Congresso. Mesmo tendo aprovado até agora suas propostas por ampla maioria, o governo não consegue criar o clima de confiança de que as coisas vão melhorar, como gostaria: a inflação não cede, o desemprego aumentou e se frustrou a previsão de crescimento.

Se tudo isso se passou com o Congresso votando medidas impopulares mas vistas como necessárias para o ajuste e retomada do crescimento, o governo avalia que muito pior será se alguma das medidas em tramitação empacar no Legislativo. É por isso que Temer e seus auxiliares acham que não há espaço para o governo virar de 2016 para 2017 sem aprovar o segundo turno da PEC do teto de gastos e deixar encaminhada a votação da reforma da Previdência. De preferência com a comissão já instalada.

O governo sabe que qualquer problema nessa agenda jogará mais combustível na onda de pessimismo generalizado em relação ao país. Para o início de 2017 o Palácio do Planalto já espera mais dificuldades e o agravamento das tensões, seja pelo conhecimento do inteiro teor da delação da Odebrecht, ainda não homologada, seja pelo avanço do processo de impugnação da chapa Dilma-Temer no TSE ou as eleições para as Mesas do Senado e da Câmara. Salvo imprevistos. Isso é só o que está agendado. Melhor aprovar logo o que for possível. "É separar o que for prioritário. A questão central são as reformas", diz um governador aliado do presidente.