Chegou a hora

George Vidor

17/10/2016

 

 

O Banco Central (BC) não pode ser acusado de ser leniente com a inflação nem mesmo pelos mais xiitas do mercado financeiro. A dose cavalar de taxas de juros foi mantida por tempo demais e já entrou na fase matar o doente, em vez de curá-lo. Claro que ainda vai persistir o argumento que o governo como um todo não conseguiu domar os gastos públicos. Mas um grande passo foi dado nessa direção com a aprovação, em primeiro turno, na Câmara dos Deputados, do projeto de emenda constitucional que, finalmente, vai pôr um cabresto nas despesas. Então é chegada a hora de o BC afrouxar, mesmo que pouco, a política monetária.

Na quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) toma a decisão sobre a taxa básica de juros que prevalecerá pelos seguintes 45 dias. E o que se espera é uma redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. Talvez caiba até um corte de 0,5 ponto percentual. Mas, qualquer que seja a queda dos juros básicos, isso trará alívio não só para o Tesouro Nacional, mas para empresas enroscadas com dívidas pesadas.

O momento de afrouxar o torniquete da política monetária é sempre angustiante. Mesmo que se busque o máximo de embasamento técnico para uma decisão como essa, há um componente subjetivo que algumas vezes leva a quem está sentado em torno da mesa de reuniões do Copom a querer esperar um pouco mais, preferindo errar por excesso do que por precipitação. Esse componente é que vai pesar nesta quarta-feira. Se depender apenas do ambiente macroeconômico, o Copom votará pelo corte dos juros. Os índices de preços continuam, em 12 meses, oscilando acima do teto (6,5%) da meta da inflação, mas acumulam evidências de que caminham rapidamente para o alvo (4,5%), agora com ajuda imediata das novas regras que a Petrobras adotou para os preços dos combustíveis. A demanda por bens e serviços está anêmica e a solução para o difícil quadro das finanças públicas, especialmente o de estados e municípios, depende também de uma melhora na arrecadação tributária.

 

Balanceado

O Inmetro é desses órgãos públicos que ajudam mais do que atrapalham. Certifica o que a indústria produz, e isso, por exemplo, é fundamental para o bom desempenho das exportações, além de ajudar o consumidor doméstico a se orientar em suas escolhas. A principal receita do Inmetro vem da fiscalização de pesos e medidas, via convênio com institutos estaduais e municipais. Por meio desse trabalho, o Inmetro descobriu um grande número de balanças adulteradas. Chegam aqui contrabandeadas, até com lacre e nota fiscal falsificados. Estima-se que este ano tenham entrado ilegalmente no país cem mil balanças. O custo da aferição de cada uma delas é de cerca de R$ 1 mil. Ou seja, perdeu-se cerca de R$ 100 milhões de receita de fiscalização.

Com seus sofisticados laboratórios, o Inmetro é um centro avançado de pesquisa. No campus de Xerém (Duque de Caxias), ao pé da serra de Petrópolis, será montada uma mini “cidade inteligente”, em parceria com a indústria, onde serão testados e aferidos todos os itens que no futuro automatizarão o controle da iluminação pública, de trânsito etc., em áreas urbanas.

 

“Endowment”

Não existe ainda expressão em português que traduza bem esse conceito econômico. Fundos de “endowment” são comuns nos Estados Unidos, e também na Europa, e servem para tornar mais perene o financiamento de museus, orquestras, teatros, companhias de dança e de outras instituições culturais. No Brasil, os poucos doadores se sentem meio frustrados diante da fragilidade financeira das instituições que patrocinam. O BNDES, inclusive. Por isso tem dado força para que o conceito de difunda no país. Em novembro realizará um fórum sobre o tema, calcado numa pesquisa com as várias partes envolvidas, especialmente grandes doadores. É uma parceria com um jovem empresário pioneiro nesse campo Ricardo Levisky, que trabalhou na captação de recursos para as principais orquestras sinfônicas do país e agora tem uma empresa especializada no tema. Entre seus clientes estão o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu Judaico, que abrirá as portas, em São Paulo, em 2017.

 

Também balançaram

O número de estudantes universitários no Brasil deu um salto em duas décadas. São mais de seis milhões na rede privada. Nos últimos anos uma parte desse crescimento decorreu do financiamento das anuidades pelo governo federal, pois sai bem mais barato custear um estudante em faculdades particulares do que manter universidades públicas. Mas o Fies — fundo que financia o ensino superior — não ficou imune à grave crise das finanças públicas no país. No Nordeste, principalmente, há faculdades que chegam a ter 60% de sua receita proveniente do Fies e com os seguidos atrasos nos repasses entraram em dificuldades. Grandes grupos que estão à frente de centros universitários vêm aguentando o tranco, o que não é o caso de faculdades isoladas. Como nem todas querem se ligar a esses grupos, a americana Ilumno, que adquiriu a Universidade Veiga de Almeida anos atrás, optou por prestar consultorias e prestar serviços a elas, oferecendo seu modelo de gestão, que se mostrou bem sucedido no Brasil e em outros países da América do Sul.

 

 

O globo, n. 30387, 17/10/2016. Economia, p. 18.