O nó da segurança

Gustavo Schmitt, Marco Grillo e Miguel Caballero

12/10/2016

 

 

Crivella e Freixo discutem papel da prefeitura ante a crise que levou à saída de Beltrame

 

Os mais recentes episódios de violência no Rio, com os ataques às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do PavãoPavãozinho e do Cantagalo, na Zona Sul, anteontem, e o anúncio da saída do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, ontem, levaram os candidatos a prefeito, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), a darem ênfase ao tema da segurança. Embora a Polícia Militar e o combate direto aos crimes sejam da alçada do governo estadual, o futuro prefeito terá, na opinião dos dois, papel importante nessa área.

Se concordam em não armar a Guarda Municipal e em não reprimir o comércio ambulante, Crivella e Freixo discordam em outros pontos importantes, como a forma de atuação da corporação. O candidato do PRB defende a mobilização de quase todo o efetivo da Guarda Municipal no combate a roubos e furtos, em parceria com a Polícia Militar; Freixo planeja o uso da guarda sem ser uma “miniPolícia Militar”, em trabalho mais preventivo do que repressivo.

 

ÊNFASE NAS UNIDADES DE ORDEM PÚBLICA

Crivella elogiou Beltrame e disse que a prefeitura tem de atuar mais em parceria com o estado e com o governo federal. Em seu programa de governo, o candidato do PRB propõe que a Força Nacional de Segurança ajude a treinar a Guarda Municipal para o uso de armas não letais e nas operações de policiamento comunitário.

— A prefeitura tem sido ausente. É preciso fazer o policiamento comunitário, com tecnologia e câmeras espalhadas. Hoje, temos milhares delas, mas todas são usadas para o trânsito. Poucas são usadas conectadas aos centros de segurança. Podemos usar policiais que são aposentados, outros que estão em cadeiras de rodas. Para que ali possam, através do rádio, melhorar a segurança da cidade — disse ontem Crivella, que defende a retomada das Unidades de Ordem Pública (UOPs), base dos guardas nas operações de patrulhamento preventivo nos bairros, incluindo as zonas Norte e Oeste.

Numa ação de governo que pretende gerar benefícios indiretos para a segurança, o candidato do PRB acena com incentivos fiscais para propiciar o surgimento de pequenas empresas em áreas com UPPs. Batizado de “Zona Franca Social”, o programa ajudaria a gerar empregos, fazendo com que o tráfico ou outras atividades criminosas sejam menos atraentes aos jovens locais.

Já Freixo tem como proposta principal que a prefeitura (com sua rede de serviços espalhada pela cidade, como unidades de saúde) ajude a traçar uma mapa detalhado da violência por bairro, para que esses dados sejam cruzados com os do governo estadual. Ele quer a Guarda Municipal mais integrada ao cotidiano de cada bairro, e com foco em ações como o controle de tráfego e a vigilância dos bens municipais.

 

MAPA DE VIOLÊNCIA POR BAIRRO

Em reunião semana passada com formuladores de seu programa na área de segurança, como o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj, e o ex-comandante da PM Íbis Pinheiro, Freixo propôs que a prefeitura seja ouvida na elaboração da política de segurança do estado, já que os cofres municipais, desde 2014, injetam dinheiro no pagamento de extras aos policiais das UPPs.

— A prefeitura não tem papel de polícia, mas de uma ação de prevenção local, de ação social concreta. Isso não é feito hoje. A prefeitura tem uma rede de serviços que pode dar muita informação. A violência na Gávea é diferente da violência na Pavuna, que é diferente de Realengo. Deve ser feito um mapa da violência em cada bairro e cruzar os dados sociais com os da segurança — disse ele, que deseja ouvir mais moradores de áreas com UPP. — É uma das falhas do projeto. Ouvir moradores é fundamental para solução de conflitos.

 

“A prefeitura tem sido ausente. Acha que segurança é só uma questão do estado. Penso diferente. Acho que a segurança começa na escola”

Marcelo Crivella

 

“O gabinete de segurança da prefeitura não tem papel de polícia, mas tem ação de prevenção local, de ação social concreta”

Marcelo Freixo

 

PROPOSTAS PARA SEGURANÇA
 
 

MARCELO CRIVELLA

• Redirecionar o foco da Guarda Municipal às operações de policiamento

• Estabelecer, no 1º ano, programa de requalificação para os guardas

• Ampliar em pelo menos 20% o número de câmeras de vigilância até 2020

• Recuperar, até o final de 2018, o programa original das 10 Unidades de Ordem Pública (UOPs) existentes

• Criar 10 novas unidades de UOPs até 2020 nas zonas Norte e Oeste

 

MARCELO FREIXO

• Criar um mapa da violência por bairros para integrar aos dados do governo estadual

• Promover a desmilitarização e a reestruturação da Guarda Municipal

• Organizar um controle externo efetivo da Guarda Municipal

• Regulamentar o uso da força por agentes da Guarda Municipal

• Ouvir mais os moradores das áreas de UPP para mediação de conflitos Editoria de Arte

 

 

O globo, n. 30382, 12/10/2016. País, p. 3.