Valor econômico, v. 17, n. 4135, 21/11/2016. Política, p. A6

"O centro reflete a alma dos brasileiros"

Por: Fernando Taquari

 

Sob a liderança do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, seu presidente de honra, o PSD consolidou-se nas eleições de 2016 como a terceira força política em número de prefeituras (540) e a quarta em número de eleitores administrados (9,8 milhões). À imagem e semelhança de seu criador, ninguém no PSD arrisca um palpite sobre o caminho que será trilhado pela sigla em 2018. Ao Valor, Kassab afirma que a única certeza é que a legenda estará ao lado do candidato do governo Michel Temer. "Integramos este governo e trabalhamos para que ele vá bem. Se isso acontecer, aparecerá um nome e naturalmente o PSD estará nessa aliança", diz Kassab.

Ao desempenho eleitoral registrado neste ano, somam-se dois governadores (Santa Catarina e Rio Grande do Norte), quatro senadores e, atualmente, a quinta maior bancada na Câmara (37).

Para Kassab, trata-se de um crescimento orgânico, fruto da consolidação do PSD como um partido de centro. "O brasileiro tem uma índole conciliadora que se encaixa com nosso perfil. Esse centro reflete a alma dos brasileiros", diz. Em 2011, ao criar a sigla, o então prefeito de São Paulo se notabilizou por afirmar que o PSD não era nem de esquerda, nem de direita e nem de centro.

Por trás da retórica, há um trabalho de garimpo em busca de lideranças afinadas com as bandeiras defendidas pelo partido, como o liberalismo econômico e o empreendedorismo. "Kassab aproveitou os contatos que tem com representantes de associações comerciais e de entidades de classe interessados em entrar na política para marcar presença com candidaturas em diversos setores", afirma o vereador paulistano reeleito José Police Neto (PSD).

A interlocutores, o presidente de honra do PSD confidencia que o quadro de incertezas quanto aos rumos da economia e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, com a delação premiada de executivos da Odebrecht, impedem qualquer tipo de acordo com vistas à corrida ao Palácio do Planalto. Nestas conversas, Kassab costuma lembrar que existe uma reforma política em gestação no Congresso, que pode alterar a configuração de forças, e que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, filiado à sigla, independentemente de qualquer desfecho, representa uma carta na manga dentro de um contexto de retomada econômica nos próximos dois anos.

O principal objetivo do PSD em 2018, afirma o líder da legenda na Câmara, Rogério Rosso, é ampliar a bancada de deputados federais, para em 2020, garantir um novo crescimento no número de prefeitos eleitos.

"O PSD tem 100% de alinhamento com Temer. Sabemos que temos condições de estar inserido em um projeto nacional em 2018", afirma Rosso, que busca viabilizar sua candidatura à presidência da Câmara.

Cientista político do Insper, Carlos Melo observa que a imagem do PSD pelo país, de ser um partido de adesão, independentemente do governo, dificulta projeções em caso de disputa na base aliada. A fama, ressalta Melo, foi reforçada em maio, quando Kassab assumiu, à convite do então presidente interino Michel Temer, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações depois de ter deixado o governo Dilma, onde era ministro das Cidades, menos de um mês antes. "Kassab está correto quando disse que o partido não é de direita ou esquerda, porque depende do gosto do freguês", diz o cientista político do Insper.

Apesar da expectativa, Kassab e o PSD não costumam antecipar decisões ou fechar questão sobre pautas e alianças. As definições geralmente se arrastam até o limite possível. Segundo o presidente do diretório estadual do Ceará, deputado federal Domingos Neto, a única vez que a legenda tomou partido em bloco ao longo dos últimos anos foi às vésperas da votação na Câmara da PEC 241, quando a bancada, em linha com o governo Temer, fechou questão a favor da proposta de impor um teto aos gastos públicos. Nem mesmo no impeachment houve tanta unidade. O presidente do PSD baiano, senador Otto Alencar, recorda que cinco deputados federais do partido no Estado votaram contra o afastamento de Dilma em um compromisso assumido com o governador Rui Costa (PT), de quem são aliados.

Otto Alencar estima que quase a metade dos prefeitos eleitos na Bahia seja composta por estreantes em eleições majoritárias.

A Bahia será no ano que vem o Estado com maior número de prefeitos do PSD. "Com as 82 vitórias, nos tornamos a primeira força política local em quantidade de prefeituras, bem à frente do segundo colocado, o PT, que ganhou em 55 cidade", afirma Otto Alencar. A exemplo da Bahia, a boa relação de Kassab e do partido com outros governadores se refletiu no resultado das urnas. Em Santa Catarina e Rio Grande do Norte, governados pelo PSD, a legenda passará administrar 61 e 52 municípios, respectivamente.

O PSD também avançou em outros grandes colégios eleitorais. Em São Paulo cresceu 76,4% ao conquistar 60 prefeituras, enquanto em Minas Gerais o aumento foi de 96,4% ao eleger 55 prefeitos. À exceção é o Rio de Janeiro, onde ganhou em apenas duas cidades. "Estamos em um processo de remontagem no Estado. Por isso esse desempenho", justifica o presidente do PSD fluminense, deputado Indio da Costa, que terminou em quinto lugar na eleição para Prefeitura do Rio, com 8,99% dos votos. Segundo Indio, sua decisão de concorrer ao cargo, a despeito da resistência de alguns correligionários e dirigentes do PMDB, levou a uma debandada de deputados federais e estaduais da legenda no primeiro semestre, o que repercutiu na eleição dos candidatos pessedistas.

Mesmo assim, o PSD tem motivos de sobra para comemorar, sobretudo se comparado com os outros nove partidos criados desde 2001, já que é o único entre estes que pode ser classificado como grande pelo volume de prefeitos, vereadores, deputados federais e senadores (veja o quadro).

Além de novas filiações - nos últimos três anos até março de 2016, o PSD foi o partido que mais ganhou filiados, 74,3 mil no total, conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - Domingos Neto, atrela o resultado eleitoral a postura de Kassab na condução do partido. "Nunca houve uma decisão monocrática. A direção nacional sempre respeitou a realidade local", diz Neto. No Ceará, porém, o número de prefeitos do PSD caiu de 27 para 18.