Crivella enfrenta Freixo no 2º turno

Luciana Nunes Leal e Fabio Grellet

03/10/2016

 

 

PMDB de Eduardo Paes, prefeito e fiador da campanha de Pedro Paulo, que terminou na 3ª colocação, é o grande derrotado na cidade.

O candidato do PSOL, deputado estadual Marcelo Freixo, disputará com o senador Marcelo Crivella, do PRB, a prefeitura da segunda maior cidade do País, com 6,5 milhões de habitantes e 4,9 milhões de eleitores. Com esse cenário, está encerrado o ciclo de dez anos de domínio do PMDB no Rio e na capital. A derrota do candidato do PMDB, Pedro Paulo, atinge principalmente o prefeito Eduardo Paes, padrinho político e fiador da candidatura do deputado federal peemedebista.

Crivella teve 27,78% dos votos, Freixo, 18,26% e Pedro Paulo ficou com 16,12%. Houve 5,5% de votos brancos e 12,76% de votos nulos. O índice de abstenção (eleitores que não votaram) foi de 24,28%.

Paes encerra no dia 1.º de janeiro o segundo mandato e é o nome do partido para disputar o governo fluminense em 2018.

Em outubro do ano passado, o prefeito insistiu na candidatura do afilhado mesmo depois que veio a público a denúncia de agressão feita contra Pedro Paulo por sua ex-mulher Alexandra Marcondes, em 2010. O processo por lesão corporal aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) foi arquivado, mas a marca de “agressor de mulher” ficou colada ao candidato.

O presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, defendeu que o partido fique neutro no segundo turno. Ressaltou, no entanto, ser uma posição pessoal.

Tanto Crivella quanto Freixo disseram que não vão buscar apoio do PMDB. Jandira Feghali – candidata do PCdoB, que recebeu 3,34% – vai apoiar Freixo.

“Derrotamos o PMDB em homenagem à democracia brasileira, é a resposta a um partido golpista”, comemorou Freixo em ato público na Lapa (centro do Rio), em referência ao apoio dado pelo partido ao impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. O candidato foi saudado com gritos de “Fora, Temer”.

Em entrevista coletiva, Crivella disse que já começou a procurar os adversários. “Vou procurar todas as forças políticas e tentar convencê-las de que chegou a hora de cuidar das pessoas”, afirmou o candidato do PRB, citando o slogan de sua campanha. Em seguida, descartou buscar apoio do PMDB.

“Não conversei (com PMDB) nem tenho intenção, mas vou conversar com todas as outras forças políticas. Queremos governar em paz. Quero conversar com todas as pessoas que pensam como eu”, afirmou. 

Avaliação. Embora tenha se dedicado à eleição de Pedro Paulo, com uma maratona de inaugurações e campanha na rua, Paes não conseguiu transferir para o candidato o eleitorado que deu a ele 25% de avaliação de bom e ótimo, segundo o Ibope. No PMDB, havia expectativa de que a aprovação de Paes crescesse além do apontado nas pesquisas, especialmente após a Olimpíada. Tropeços do prefeito fizeram com que a avaliação positiva fosse menor que os 33% de eleitores que consideram a administração ruim ou péssima. Paes ficou marcado como bom gestor, mas também por declarações infelizes.

O PMDB também sofreu as consequências do colapso financeiro do Estado e do desgaste do partido com a suspeita de envolvimento de importantes líderes peemedebistas no esquema de corrupção da Petrobrás, investigado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.

Ao longo da campanha, os adversários faziam questão de ligar Pedro Paulo ao “PMDB de Eduardo Cunha e Sergio Cabral”, em referência ao deputado cassado em setembro e ao ex-governador, ambos investigados na Lava Jato. Cunha e Cabral negam ter recebido propinas e contribuições ilegais para campanhas eleitorais.

 

Trajetória. Aos 58 anos, no segundo mandato no Senado, Crivella manteve a liderança desde o início da campanha. Apresentou- se como político distante dos escândalos da Lava Jato da Petrobrás e estatais, e distanciou- se da Universal, da qual é bispo licenciado. O candidato aproximou-se de líderes de diversas religiões, em especial católicos.

Disputa a prefeitura em coligação com o PR de Anthony Garotinho.

O vínculo com a Universal – fundada pelo bispo Edir Macedo, seu tio – e Garotinho foram os dois pontos mais explorados pelos adversários e serão intensificados no segundo turno. O senador responde com uma espécie de mantra: “A política é de todas as religiões e até de quem não tem religião”. Ele tem melhor desempenho entre os eleitores de menor renda e escolaridade.

O senador disputa pela terceira vez a prefeitura do Rio. Já foi duas vezes candidato a governador.

Em 2014, perdeu no segundo turno para Luiz Fernando Pezão (PMDB), reeleito. Freixo disputou a prefeitura em 2012, quando Paes foi reeleito no primeiro turno, com 64,6% dos votos. Logo após votar, Freixo declarou que estava confiante no resultado da urna por ter sentido “ apoio durante toda a campanha”. O candidato do PSOL foi o segundo colocado, com 28,1%. 

Campanha

“Derrotamos o PMDB em homenagem à democracia brasileira, é a resposta a um partido golpista.”

Marcelo Freixo

CANDIDATO DO PSOL “Vou conversar com todas as forças políticas.

Quero governar em paz e falar com todas as pessoas que pensam como eu.”

Marcelo Crivella

CANDIDATO DO PRB

RIO DE JANEIRO

2º TURNO

Crivella (PRB)

% VOTOS VÁLIDOS

27,8%

TOTAL DE VOTOS

842.201

Pedro Paulo (PMDB)

% VOTOS VÁLIDOS

16,1

TOTAL DE VOTOS

488.775

Flávio Bolsonaro (PSC)

% VOTOS VÁLIDOS

14

TOTAL DE VOTOS

424.307

Indio da Costa (PSD)

% VOTOS VÁLIDOS

9%

TOTAL DE VOTOS

272.500

Osorio (PSDB)

% VOTOS VÁLIDOS

8,6

TOTAL DE VOTOS

261.386

Jandira Feghali (PCdoB)

% VOTOS VÁLIDOS

3,3

TOTAL DE VOTOS

101.133

Alessandro Molon (Rede)

% VOTOS VÁLIDOS

1,4

TOTAL DE VOTOS

43.426

Carmen Migueles (Novo)

% VOTOS VÁLIDOS

1,3

TOTAL DE VOTOS

38.512

Cyro Garcia (PSTU)

% VOTOS VÁLIDOS

0,2

TOTAL DE VOTOS

5.759 

Thelma Bastos (PCO)

% VOTOS VÁLIDOS

0%

TOTAL DE VOTOS

0%

FONTE: TSE.

 

O Estado de São Paulo, n. 44911, 03/10/2016. Política, p.A16