Filha de miliciano preso diz que candidato do pai é Crivella

Gustavo Schmitt

15/10/2016

 

 

Político afirma que voto é democrático e precisa dele para ganhar a eleição

 

Marcelo Crivella (PRB) afirmou ontem que precisa do voto de Carminha Jerominho, filha de Jerominho e sobrinha de Natalino Guimarães, presos desde 2008, acusados de comandar a maior milícia do Rio. Carminha declarou seu apoio e o dos parentes ao candidato do PRB. O candidato a prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB) disse ontem que precisa do voto de Carminha Jerominho neste segundo turno. Filha de Jerominho e sobrinha de Natalino Guimarães — presos desde 2008, acusados de comandar a maior milícia do Rio —, ela postou ontem um vídeo no Facebook em que pede voto para Crivella e diz que Marcelo Freixo (PSOL) não vai à Zona Oeste por medo de ser vaiado. A informação foi antecipada pelo blog de Lauro Jardim, no GLOBO.

Crivella garantiu que desconhecia o apoio de Carminha, cuja família tem influência em redutos eleitorais de Campo Grande, mas enfatizou que precisa do voto de todos para ganhar a eleição.

— Eu não sabia (se referindo ao apoio). Estou sabendo por você agora — disse Crivella ao GLOBO, durante uma caminhada no Aterro do Flamengo. — Todo apoio, todo voto é importante. Sem voto ninguém ganha a eleição. O voto é a expressão democrática de todos. E nós precisamos dos votos. Não quer dizer que vamos fazer aliança. A gente faz o máximo para ganhar, mas não faz qualquer coisa. Eu preciso do voto da Carminha. Eu preciso do voto de todos.

 

“O VOTO É LEGÍTIMO”

Perguntado se não havia constrangimento em aceitar o apoio de Carminha pela história da família dela, Crivella não quis polemizar:

— A Justiça dirá. Agora, o voto é legítimo. Ninguém pode ganhar eleição sem voto.

No vídeo, Carminha chama Freixo de “covarde” e, em nome de Natalino Guimarães, seu tio, pede voto para o candidato do PRB:

“Nessas eleições, eu apoio Marcelo Crivella. É um apoio voluntário. O candidato do Jerominho, do Natalino e da Carminha é Crivella. É dez!”, disse a ex-vereadora.

Na gravação, ela ainda desafia Freixo a caminhar no Centro de Campo Grande.

Os nomes de Jerominho e Natalino foram citados no relatório da CPI das Milícias, presidida por Freixo na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A comissão indiciou 226 pessoas por envolvimento com grupos paramilitares. Após presidir a comissão, o deputado estadual e hoje candidato a prefeito pelo PSOL sofreu ameaças de morte atribuídas grupos de milicianos e passou a ser escoltado por seguranças.

Em julho de 2008, o então deputado estadual Natalino Guimarães (DEM/RJ) foi preso acusado de chefiar uma milícia que controlava grande parte das comunidades de Campo Grande. Seu irmão Jerominho, que à época era vereador pelo PMDB, foi preso em dezembro de 2007, pelo mesmo motivo. O grupo controlava serviços clandestinos de transporte alternativo, segurança, distribuição de gás e venda de sinal de TV a cabo, arrecadando, segundo a polícia, R$ 2 milhões por mês.

Em ato na Cinelândia ontem à noite, Freixo criticou o posicionamento de Crivella:

— Não acho que qualquer voto é válido. Se ela quisesse me apoiar, eu não aceitaria, como já dispensei outros apoios. Quem faz qualquer coisa para chegar ao poder, faz qualquer coisa no poder.

 

“HÁ MUITA GENTE BOA NO PMDB”

Ao justificar o apoio de Carminha, Crivella enfatizou a importância de buscar apoios no segundo turno. O candidato do PRB articula uma aliança com o tucano Carlos Osorio (PSDB) e já recebeu o apoio de vereadores do PMDB, como Rosa Fernandes, Leila do Flamengo e o presidente da Câmara municipal, Jorge Felippe. Este último é ex-sogro de Rodrigo Bethlem, ex-secretário de Eduardo Paes acusado de corrupção. Após atacar o PMDB no primeiro turno, o senador moderou o tom.

— São as pessoas que estão no petrolão e na Lava-Jato. Não são todos do PMDB. Há muita gente boa no PMDB. E desses votos, nós precisamos. (Colaborou Suellen Amorim, especial para O GLOBO)

 

 

O globo, n. 30385, 15/10/2016. País, p. 4.