Mudança na política de preços facilitará busca de sócios para BR

Bruno Rosa

15/10/2016

 

 

Presidente da Petrobras promete transparência e paridade internacional

 

O anúncio da nova política de preços da Petrobras vai ajudar a companhia a buscar parceiros para alguns de seus ativos, como a BR Distribuidora e as refinarias. Além disso, a queda nos preços da gasolina e do diesel, que entraram em vigor hoje, deve contribuir para que a estatal recupere sua participação no mercado, reduzida em meio ao avanço das importações.

Em ação. Sede da Petrobras, cuja iluminação este mês integra a campanha Outubro Rosa: novos critérios de reajuste

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse ontem que a nova política de preços visa a aumentar a transparência da companhia. Ele ressaltou que os preços internos nunca estarão abaixo da paridade internacional, considerando-se os custos de transporte). Além disso, a política leva em conta a margem da empresa e sua participação no mercado.

— A política de preços é um dos fatores importantes para nos ajudar a fazer a redução da alavancagem da empresa. Essa política é baseada na paridade internacional de preços, à qual adicionamos uma margem — explicou Parente ontem, em entrevista coletiva, acrescentando que os preços serão analisados mensalmente.

 

AUMENTO NA FATIA DE MERCADO

Haroldo Lima, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), disse que, embora a redução seja pequena, a decisão anunciada ontem indica uma nova direção para a companhia. Segundo ele, essa nova política corrige um problema observado em governos passados, quando os preços dos combustíveis foram deixados, por um período muito prolongado, abaixo do mercado internacional.

— A redução no preço deveria ter ocorrido já durante o governo Dilma (Rousseff ). No governo passado, esse mecanismo, que visava a coibir o aumento da inflação, onerou os cofres da companhia. O problema foi o tempo prolongado. Agora, a nova política corrige essa distorção — afirmou Lima.

O mercado acionário também reagiu bem ao anúncio: as ações da estatal subiram até 3,17%. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), elogiou a nova política. Segundo ele, as premissas respondem a quase todas as dúvidas do mercado, como não ter preços abaixo das cotações internacionais e efetuar uma nova análise todo os meses. Pires ressaltou que essa estratégia permitirá atrair parceiros para os ativos da Petrobras na área de distribuição:

— Agora há uma previsibilidade. A dúvida é por que o diesel teve redução menor que a gasolina, se o preço do diesel está mais caro no Brasil em relação ao da gasolina.

Em sua apresentação, Jorge Celestino, diretor de Refino e Gás Natural, disse que a nova política de preços precisa ser consistente, já que a empresa busca parceiros para a área de distribuição e refino. Outro motivo para a redução nos preços, segundo Celestino, é a queda da participação da Petrobras no mercado de combustíveis. Entre janeiro e setembro deste ano, as importações de diesel já somam 14% do mercado total do país. No caso da gasolina, essa fatia chega a 4%.

— As conversas que temos tido com o mercado nos levam a concluir que precisamos ter uma política de preços consistente — disse Celestino, ressaltando que a nova política prevê estímulo às vendas. — Se em determinada localidade, o grupo entender que é preciso aumentar as vendas, vamos estimular as distribuidoras a elevar as vendas acima da cota do mês. E, pelo volume que eles venderem acima, receberão um desconto.

Ivan Monteiro, diretor financeiro da Petrobras, destacou que o aumento da participação no mercado com o combustível mais barato deve compensar a queda na receita decorrente da redução dos preços.

— Todos esses fatores foram considerados na elaboração do Plano de Negócios. Nenhum parâmetro será alterado, como a redução da alavancagem e do investimento — afirmou.

 

MAIS DE 90 ANALISAM BR

Monteiro informou, ainda, que a Petrobras enviou para mais de 90 empresas o prospecto (teaser) da BR Distribuidora. Na quinta-feira, as Lojas Americanas mostraram interesse em participar do processo de compra da rede, em um negócio que, segundo fontes, pode superar R$ 12 bilhões.

— Encaminhamos mais de 90 teasers. Quem assinar o acordo de confidencialidade vai receber um conjunto com mais informações sobre o negócio. Há um interesse muito grande, com nomes no Brasil e no exterior, com diferentes perfis — disse Monteiro.

 
 
 
O globo, n. 30385, 15/10/2016. Economia, p. 24.