ACENO - 'O processo eleitoral termina aqui', diz senador

Gustavo Schmitt e Ruben Berta

31/10/2016

 

 

Citando Deus sete vezes, Crivella também agradece a umbandistas, agnósticos e ateus em discurso

 

No primeiro pronunciamento após o resultado das eleições, o prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), disse que a campanha foi “inesquecível”. Reafirmando que fará um “governo técnico”, citou Deus sete vezes; mencionou diferentes crenças, como o catolicismo, o candomblé e o espiritismo, além de agnósticos e ateus; e pediu que seus eleitores se unam em torno das palavras usadas em slogans de sua campanha, como a ideia de “cuidar das pessoas".

— Não podemos jamais cair na praga maldita da vingança. O processo eleitoral termina aqui. Nós não temos memórias para injúrias e infâmias. Vamos concentrar as nossas energias para concretizar o nosso projeto — discursou Crivella, durante a comemoração da vitória no Bangu Atlético Clube, Zona Oeste, região da cidade que ele destacou como prioridade em seu governo.

O prefeito eleito agradeceu a quem o acompanhou no primeiro turno, como a deputada Clarissa Garotinho, responsável pela parceria com o PR, e o senador Romário (PSB-RJ). Também citou Indio da Costa (PSD) e Carlos Osorio (PSDB), candidatos derrotados no primeiro turno e que o apoiaram no segundo.

— Ninguém vence sozinho. Aquele que se elege é apenas um representante que ajuda o projeto a alcançar o coração dos eleitores — exaltou o senador licenciado do PRB, que ainda usou a própria história para exaltar a perseverança: — Eu peço a Deus que essa modesta vida pública possa deixar para todos os cariocas esse exemplo de que sempre chega a nossa vez quando a gente não desiste. Peço a Deus que nós todos, nestes quatro anos de governo, possamos ter a esperança dos que sempre lutam e a fé dos que nunca desistem.

 

MÃOS DADAS COM MALAFAIA

O primeiro discurso do prefeito eleito do Rio foi marcado por um tom de conciliação, sem deixar de lado alfinetadas na imprensa e no adversário derrotado, Marcelo Freixo (PSOL). O comício terminou com Crivella pedindo a todos os presentes, de todas as religiões, que dessem as mãos numa oração, o Pai Nosso, pedida pelo padre Lazaro, da Igreja da Penha. Após a oração, Crivella deu as mãos no palco ao pastor Silas Malafaia. Ele já havia agradecido o apoio de outros evangélicos como RR Soares e o bispo Waldomiro Santiago.

Cercado dos políticos que o apoiaram no segundo turno (Indio e Osorio), o senador parabenizou Freixo “pela luta”, agradeceu pelo telefonema que recebeu do prefeito Eduardo Paes e dirigiu-se aos católicos:

— Não podemos esquecer de agradecer a toda a Igreja Católica, que nos apoiou, apesar de todos os preconceitos. Quero agradecer também aos umbandistas, aos candomblecistas, e aos agnósticos e ateus.

Depois de saírem do salão do clube, Crivella e seus apoiadores foram ao ginásio, onde subiram ao palco. A bateria da escola de samba Mocidade Independente animou a festa.

No ginásio, o prefeito eleito voltou a fazer críticas à imprensa mas, novamente, afirmou que o momento agora não é de vingança:

— Não queremos revanchismo. As injúrias e calúnias contra mim ficaram para trás.

No palco, sem citar diretamente o adversário derrotado Marcelo Freixo, Crivella disse que as urnas afirmaram que não querem a legalização do aborto, das drogas e da ideologia de gênero; e que espera o apoio da Câmara municipal para que isso não vá à frente.

 

PERCURSO PELOS BAIRROS

Mais cedo, após votar no Clube Marimbás, em Copacabana, Crivella percorreu bairros da cidade. Com militantes cantando e distribuindo adesivos pela rua, e abordado por eleitores, chegou por volta das 12h à comunidade Parque Proletário, na Vila Cruzeiro, na Penha; antes, o senador visitara a Mangueira. Pegou carona numa motocicleta e, sem usar capacete, percorreu a comunidade.

— Em todas as eleições que disputei, esta é a sétima, vou votar na mesma seção eleitoral de Copacabana. Depois, saio para agradecer aos eleitores. Tenho mais ou menos o mesmo itinerário. Daqui atravesso o túnel, passo Triagem, São Cristóvão, passo na Mangueira, chego à Pavuna e vou terminar lá em Bangu, onde será o agradecimento à militância.

Na entrada da Grota, no Complexo do Alemão, um carro de som tocava o funk do senador, enquanto militantes distribuíam adesivos.

— Chegou a hora de cuidar das pessoas — repetia, enquanto caminhava.

Crivella disse que esperava uma queda no número de abstenções no segundo turno:

— Todo candidato é confiante. Trabalhei muito, apresentei minhas propostas, fui em todos os debates. Se o povo do Rio decidir que mereço a honra de servir a eles, vou me devotar como nunca na vida a cuidar da Saúde, da Educação, do Transporte e da Segurança em todos os dias do meu mandato — afirmou, sem dizer que faltou a boa parte dos debates do segundo turno.

 

SAÚDE, MAIOR DESAFIO

Ainda antes do resultado, Crivella afirmou que o maior desafio está na Saúde:

— Temos uma fila na baixa complexidade, de quase 30 mil pessoas, que estão angustiadas, aflitas. Vamos resolver esse assunto custe o que custar — prometeu, frisando que, na Segurança, será necessário fazer parcerias. — Precisamos conversar com governo do estado, Polícia Federal, Força Nacional de Segurança. (Colaborou Guilherme Ramalho)

 

 

O globo, n. 30401, 31/10/2016. País, p. 6.