Valor econômico, v. 17, n. 4133, 17/11/2016. Brasil, p. A8

Lula amplia mobilização internacional

Lula: processo criminal contra ex-presidente por corrupção e lavagem de dinheiro avança em Curitiba, com oitiva de testemunhas na próxima semana

Por: Assis Moreira e André Guilherme Vieira

 

As testemunhas de acusação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começam a ser ouvidas na segunda-feira na 13ª Vara Federal, em Curitiba, perante o juiz Sergio Moro. Lula responde a uma ação penal por corrupção e lavagem, no âmbito da Operação Lava-Jato.

Serão ouvidos na segunda Delcídio do Amaral, o empreiteiro Augusto Ribeiro, e o ex-diretor da Camargo Corrêa Dalton Avancini ex-senador. Ainda serão ouvidas no processo, pela acusação, testemunhas como Fernando "Baiano", operador ligado ao PMDB, Alberto Youssef, doleiro, que será posto em liberdade condicional hoje, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, ex-diretores da Petrobras; Pedro Corrêa, ex-deputado, e Pedro Barusco, ex-gerente de engenharia da petrolífera.

Por meio de uma videoconferência, exibida na entrevista coletiva de seus advogados em Genebra, na Suíça, Lula disse ontem que vai ganhar na Justiça contra o que chama de acusações de corrupção manipuladas contra si. O advogado britânico Geoffrey Robertson, entretanto, chegou a prever que Lula "obviamente vai ser condenado", diante do que ele chama de manipulação e abusos.

O advogado britânico foi especialmente duro em entrevista coletiva concedida em Genebra, dizendo que "o sistema legal brasileiro é primitivo", enquanto os dois advogados brasileiros que o acompanhavam nem piscaram. "Nenhum juiz em país civilizado agiria como [Sergio Moro] está agindo contra Lula no Brasil", acusou.

Lula aumentou a mobilização internacional contra seu processo penal e seus advogados resolveram apresentar "novas evidências" de abusos contra ele no Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU. Se isso se confirmar, a agência da ONU pode alterar os prazos de exame da documentação e atrasar a abertura formal do caso pedido por Lula.

A entrevista coletiva à imprensa internacional, em Genebra, contou com apenas nove inscritos, incluindo um representante de um centro médico, um universitário e um professor de direito, apesar do evento raro de um ex-presidente atacar o Estado brasileiro no exterior. A equipe trazida pelo advogados incluiu o fotógrafo oficial de Lula, Ricardo Stuckert, tradutor, operador de vídeo etc.

A entrevista foi aberta com Lula falando a partir de São Paulo por videoconferência. Com um som ruim e muito eco, foi possível ouvir o ex-presidente reclamar de "perseguição política para destruir o PT", de um "conluio", segundo ele, entre imprensa, setores da Polícia Federal e do Ministério Público, que querem impedi-lo de disputar a eleição presidencial de 2018.

Lula disse ainda na sua mensagem ao exterior que "o Brasil acaba de sofrer um golpe, depois de 30 anos de democracia". E que depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, é ele agora a vítima "de mentiras que se transformam em processo". Mas atacou: "Vamos ganhar [na Justiça], tenho história de vida". Segundo o advogado Cristiano Zanin Martins, Lula vai ficar no Brasil para sua defesa, qualificando de bobagem rumores sobre asilo ou algo parecido.