Valor econômico, v. 17, n. 4132, 16/11/2016. Brasil, p. A5
OCDE rebaixa Brasil em escala de risco de crédito
Custo da importação de máquinas com seguro ou financiamento de agências oficiais passa a ser maior
Por: Assis Moreira
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) rebaixou o Brasil em sua escala de classificação de risco de crédito. O impacto imediato é o aumento do custo das importações de máquinas e equipamentos com seguro ou financiamento de agências oficiais de crédito.
A classificação da OCDE segue a escala crescente de risco, de zero (menor) a 7 (maior). A nova avaliação sobre o Brasil é que o risco do país aumentou - de 4 para 5, justamente quando muitos analistas estimam que a economia brasileira está saindo do fundo do poço.
Diferentemente de agências privadas como Moody's, Fitch e S&P, que avaliam o risco da dívida pública brasileira, o rating da OCDE, definido pelas agências oficiais de seguro de crédito, mensura o risco que as empresas privadas tem ao exportar para determinados países e, com isso, o prêmio a ser pago pelo importador.
Com a reclassificação, o financiamento da atividade produtiva brasileira fica mais caro. Agora, o prêmio de risco em uma importação feita por uma empresa privada do Brasil passa a custar 1,79% ao ano, contra 1,45% antes. O rebaixamento da nota brasileira começou a vigorar em 28 de outubro.
Ao mesmo tempo, as agências oficiais de crédito à exportação melhoraram a nota de risco da Argentina, de 7 para 6 - um patamar ainda bem ruim. Mas atenua a situação para as companhias do país, já que o prêmio de risco de crédito caiu de 2,7% para 2,19%
Ludovic Subran, economista-chefe global da Euler Hermes, maior grupo mundial de seguros de créditos, e que atua como intermediário para o governo alemão, diz que uma explicação para a degradação da nota de crédito do Brasil é a estagflação. "A recessão é mais profunda do que muitos pensavam e a inflação continua elevada. Essa combinação eleva os riscos de crédito'', disse ele ao Valor.
Subran exemplificou com o aumento de 20% nas insolvências de empresas no Brasil. Destacou também o aperto no financiamento, que dificulta a situação para as companhias, em meio a uma persistente recessão. Para ele, os ventos externos tampouco ajudam. "A eleição de Donald Trump nos EUA é um risco adicional para o Brasil. O dólar será mais forte e o real, mais débil. E o risco de fuga de capital aumenta no país".
Mas o economista-chefe da Euler Hermes reconhece que o Brasil está melhorando. "O risco de crédito é importante, mas se o país realmente implementar reformas, reduzir o protecionismo e os juros baixarem, tudo isso vai ajudar".
Como os representantes das agências oficiais de crédito à exportação dos países industrializados só se reúnem uma vez por ano na OCDE para rever ou manter o rating dos países da América Latina, as novas taxas de juros deverão vigorar ao menos até outubro de 2017.
Entre as grandes economias emergentes, o Brasil é o país que paga mais na importação com financiamento fornecido por governos industrializados. O México tem rating 3 e suas empresas na mesma situação do Brasil são submetidas a prêmio de risco de crédito de 1,21%.
Empresas da China, por sua vez, podem importar com prêmio de risco de 0,875%, ou seja, quase metade da taxa do Brasil. Pequim tem rating 2 na classificação da OCDE, assim como a Malásia. Índia e a Indonésia tem rating 3 e Rússia e África do Sul, rating 4.
As agências dizem levar em conta o risco de que um governo venha a impor controle sobre movimento de capitais ou sobre divisas, que impediriam uma inteira conversão da moeda local em divisas estrangeiras ou transferência de fundos para os credores fora do país, por exemplo.