Valor econômico, v. 17, n. 4130, 11/11/2016. Brasil, p. A3

Com novo formato, "Conselhão" voltará a se reunir no dia 21

Planalto altera composição do órgão e Temer promete dar "voz" efetiva aos conselheiros

Por: Andrea Jubé

 

Com nova composição e novo formato, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o "Conselhão", órgão de assessoramento da Presidência da República, volta a se reunir no dia 21. A promessa do presidente Michel Temer para a nova fase do colegiado é de que o governo falará menos para dar "voz" efetiva aos conselheiros.

Nesta edição, a participação de mulheres cresceu 72%. Além de nomes expressivos do PIB nacional, há celebridades e especialistas de áreas não exploradas antes, como inovação, direito do consumidor e direito afetivo.

Um dos destaques da nova composição é o empresário Roberto Justus, CEO da NewComm, e apresentador de "O Aprendiz". O nome de Justus chama a atenção num momento em que os holofotes se voltam para ex-apresentadores do programa, que saíram vitoriosos das urnas. O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, foi apresentador da versão original americana, "The Apprentice", produzido pelo canal NBC. O prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), também foi apresentador da versão brasileira.

Criado em 2003, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Conselhão ajuda o chefe do Executivo a elaborar políticas públicas para impulsionar o crescimento e desenvolvimento social. A formação original tinha 90 integrantes, subiu para 92 com a ex-presidente Dilma Rousseff e ainda pode ganhar mais alguns nomes, até a reinstalação no dia 21.

Na nova formação, cresceu a participação de mulheres, que agora representam 34% do colegiado. São novas titulares: a escritora Ana Maria Machado, a especialista da área de inovação e CEO da Urban3D, Anielle Guedes, a advogada e desembargadora aposentada do TJ-RS Berenice Dias - da área de "direito afetivo" -, a ex-presidente do STJ Eliana Calmon, a economista Dorothea Werneck, a CEO da Microsoft Brasil Paula Bellizia e a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.

Outros novos integrantes são: o técnico da seleção masculina de vôlei, Bernardinho, o ex-jogador Raí, da Fundação Gol de Letra, o publicitário Nizan Guanaes, Ricardo Morishita, especialista em direito do consumidor, entre outros.

Com a saída de dom Joaquim Giovani Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte e reitor da PUC Minas, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fica sem assento no colegiado. Ainda na área social, também deixam o órgão a presidente da UNE, Carina Vitral, o ator Wagner Moura e o escritor Fernando Morais. Em contrapartida, são novos integrantes o ator e ativista do movimento negro Milton Gonçalves e o ativista social José Júnior, do AffroReggae.

Na área sindical, dois representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, perderam assento: o presidente da central, Vagner Freitas, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. No lugar de ambos, entra o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, e a secretária nacional de cidadania e direitos humanos da Força Sindical, Ruth Monteiro.

Em meio ao ajuste e à reforma previdenciária, três nomes do movimento sindical prosseguem no colegiado: os presidentes da CSB, Antonio Neto, da UGT, Ricardo Patah e da Nova Central (NCST), José Calixto Ramos.

Da antiga composição, permanecem a presidente do Conselho do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, a presidente da TAM, Claudia Sender, os empresários Abílio Diniz, Jorge Paulo Lemann, Jorge Gerdau, além de Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, Josué Gomes da Silva, da Coteminas, e o presidente da CNI, Robson Andrade.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, coordenador-executivo do órgão, explicou ao Valor que a orientação de Temer foi para que o colegiado fosse reestruturado para se transformar em um órgão que efetivamente desse conselhos. A gestão Temer ouviu críticas de que no passado, os conselheiros mal tinham tempo para se pronunciar nas reuniões plenárias, onde eram obrigados a ouvir longos discursos dos ministros convidados, que faziam "propaganda do governo", e não se mostravam interessados nem abertos às sugestões.

"O presidente quer ouvir muito e falar pouco nas reuniões do conselho, ele quer buscar subsídios para enriquecer o seu projeto de governo", assegura Padilha. "O tempo dedicado à fala dos conselheiros será muito superior ao tempo que o presidente ou representantes dos ministérios possam responder às questões ou enunciar temas", completou.

O tema da primeira reunião sob o novo formato são os desafios para a retomada do crescimento. Padilha diz que o ajuste fiscal envolve o teto para os gastos públicos e a reforma da Previdência Social, mas não pode ficar só nisso. "Temos de partir logo para o segundo ponto, que é o incremento da atividade econômica, que implica parceria com o setor privado."

Na primeira reunião do novo colegiado, Temer fará uma breve manifestação da abertura, seguido de Padilha e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Depois, pelo menos 12 conselheiros farão exposições individuais de cerca de cinco minutos. Até o fim do governo Temer, espera-se que os 92 titulares do colegiado pronunciem-se nas reuniões plenárias.