Valor econômico, v. 17, n. 4129, 10/11/2016. Brasil, p. A5
Para PMDB, eleição de Trump muda lógica política
Caciques do partido avaliam que há uma onda global antissistema
Por: Andrea Jubé
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), e o ministro da Casa Civil e vice-presidente do PMDB, Eliseu Padilha, aproveitaram ontem a cerimônia de comemoração dos 50 anos do partido para mandar um alerta aos parlamentares da sigla e aos filiados sobre a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos.
Jucá - ex-ministro do Planejamento e um dos políticos mais próximos do presidente Michel Temer - ressaltou, em seu discurso, que "hoje a política não se faz mais pelos instrumentos convencionais", porque cada cidadão se tornou um "ator político".
O ministro Eliseu Padilha ressaltou que a eleição norte-americana mostra as mudanças no processo político. "Esta eleição dos Estados Unidos mostra perfeitamente que a sociedade muda o rumo quando quer", destacou Padilha. "O [presidente] Barack Obama vive o seu melhor momento de avaliação política, apoiou com todas as forças a candidata democrata [Hillary Clinton] e, mesmo assim, a sociedade americana resolveu que ia tomar outro rumo", alertou.
Complementando Jucá, no sentido de que a política hoje não se faz mais pelos instrumentos convencionais, Padilha disse que o PMDB tem de ter capacidade de inserir nesse "diálogo horizontalizado, em que todo mundo participa, ninguém tem razão e todo mundo opina". Padilha advertiu que o cenário "é muito mais complexo" e que o partido que se aperceber do problema terá condições de enfrentá-lo.
Padilha e Jucá refletiram em seus discursos no evento do PMDB um temor que tem assombrado as lideranças políticas no Brasil, em meio ao crescimento da rejeição da sociedade brasileira aos políticos tradicionais, concomitante ao avanço da Operação Lava-Jato e das denúncias de corrupção sistêmica.
Esse receio é tema de conversas reservadas entre caciques dos principais partidos. Essa conjuntura é apontada como a razão da eleição de personalidades como João Doria (PSDB), eleito em primeiro turno para a Prefeitura de São Paulo, depois de se apresentar aos eleitores como um "trabalhador", neófito no ambiente político.
"A relação de confiança entre a política e o cidadão foi extremamente fragilizada, vamos ter que recompor isso sob pena de chegarmos em 2018 e a população buscar uma outra linha de saída que não seja a política estruturada formal", disse Jucá em entrevista concedida ao Valor em setembro.