Cunha tem patrimônio 53 vezes maior, aponta MPF

Cleide Carvalho

21/10/2016

 

 

Ex-deputado declarou a banco suíço ter US$ 20 milhões (R$ 64 milhões); ao Fisco, informou R$ 1,2 milhão

 

 Com base em valores que Eduardo Cunha declarou ao abrir conta no banco suíço Julius Baer, em 2007, a força-tarefa da Lava-Jato estima que o ex-deputado tenha um patrimônio 53 vezes maior do que ele declarou no Brasil, no mesmo ano. Documentos de bancos suíços enviados às autoridades brasileiras apontam que Cunha tinha três contas vinculadas ao nome dele.

O Ministério Público Federal tomou como base o que seria seu patrimônio na abertura de uma conta no banco Julius Baer, em 2007. Na ocasião, o valor declarado foi de US$ 20 milhões, o equivalente a R$ 64 milhões. No Brasil, no entanto, ele informou ao Fisco patrimônio de R$ 1,2 milhão.

Em 2008, ao abrir uma segunda conta para Cunha, o Banco Merrill Lynch estimou o patrimônio dele em US$ 16 milhões, proveniente de investimentos financeiros e no mercado imobiliário do Rio de Janeiro. Ao preencher o cadastro, o próprio Cunha informou possuir patrimônio de US$ 11 milhões e informou ainda que possuía outra conta no Merrill Lynch de Nova York há 20 anos.

Para os procuradores, permanece oculto um patrimônio de pelo menos US$ 13 milhões e ainda não foram localizadas contas nos Estados Unidos. A suspeita de que ele tenha contas em bancos americanos existe porque Cunha manteve em Nova York, até pouco tempo, uma caixa postal, para onde eram enviadas as correspondências das instituições financeiras suíças. Quando perguntado pelos bancos sobre o motivo de usar este tipo de serviço, Cunha costumava dizer que o correio no Brasil não era confiável.

Como a Lava-Jato só conseguiu até agora o bloqueio de 2,3 milhões de francos suíços, cerca de US$ 3 milhões, os procuradores afirmam que ele pode ter contas no exterior ainda não identificadas, especialmente nos Estados Unidos.

No documento em que pediram a prisão de Cunha, os procuradores afirmam que há elementos que apontam “que durante todo o seu período de vida pública Eduardo Cunha utilizou-se do cargo para obter vantagens indevidas com a finalidade de possibilitar uma vida de gastos vultuosos para o deputado federal e para a sua família”.

 

MOVIMENTAÇÕES SUSPEITAS

A força-tarefa identificou que Cunha fazia movimentações suspeitas fora do Brasil desde 2000, quando ocupava a presidência da Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro. O nome do ex-deputado apareceu em documentos da Operação Farol da Colina, que investigou remessas ilegais de dinheiro por meio do Banestado, atrelado a duas remessas feitas pelo doleiro carioca Oscar Jagger. O valor era de US$ 23 mil. No Brasil, a força tarefa da Lava-Jato identificou que despesas da família Cunha foram pagas por Lúcio Funaro, apontado como o operador do exdeputado. Empresas de Funaro pagaram pelo menos três veículos comprados em São Paulo pela família Cunha. O advogado de Cunha, Marlus Arns, disse que ainda não conversou com seu cliente sobre os detalhes das acusações.

 

 

O globo, n. 30391, 21/10/2016. País, p. 9.