Título: Só educação qualificada supera atrasos
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Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2011, Opinião, p. 14

O Brasil tinha 10 milhões de habitantes, 1,5 milhão (15%) dos quais escravizados, quando se fez o primeiro censo no país, em 1872, a 17 anos da Proclamação da República. Passados 131 anos, em 2010 éramos 190 milhões de pessoas, menos de 16% morando em zona rural, todas vivendo no Estado Democrático de Direito. Ainda assim, negros e pardos, representando 56% da população, tinham renda 2,4 vezes menor do que a dos brancos. As mulheres, mesmo respondendo pelo sustento de 38,7% dos domicílios, ganhavam 42% menos que os homens.

Não bastassem as flagrantes discriminações, mesmo depois dos avanços recentes, que resgataram milhões da miséria, nem sequer o salário mínimo vigente à época da pesquisa do IBGE (R$ 510) — reconhecidamente insuficiente para uma sobrevivência digna — chegava a todos. Em 2010, a renda per capita de um quarto dos moradores do território nacional era inferior a R$ 188. Ou seja, por mais que evolua, a realidade socioeconômica do brasileiro continua a refletir a falta de políticas públicas que retoquem com mais rapidez e eficiência os retratos cada vez mais nítidos e completos revelados ao país pelo Censo.

São muitas as deficiências. Por exemplo: a violência faz com que quatro homens de 20 a 24 anos, em plena fase produtiva, percam a vida enquanto morre uma mulher da mesma faixa etária, a maioria vítima de homicídio ou acidente de trânsito. Os portadores de deficiência (visual, auditiva, mental) formam contingente superior a 17 milhões de pessoas, 6,7% da população, em geral relegados ao desamparo total, sem nem sequer contarem com condições mínimas de mobilidade. Quase um terço dos habitantes não é servido por rede de esgoto ou fossa séptica. Também falta água potável para cerca de 20%.

Finda a primeira década do século 21, as cores fortes do atraso igualmente prevalecem na educação, onde talvez esteja o nó a desatar para a entrada no Primeiro Mundo de um país que já é a sétima maior economia do planeta e caminha rapidamente para se tornar a quinta. Entre 2000 e 2010, o analfabetismo caiu quatro pontos percentuais, é verdade, como também é fato que há mais gente frequentando a escola, mas ainda temos perto de 14 milhões de analfabetos, quase 10% da população.

Pior: se a baixa escolaridade do brasileiro dificulta a ascensão social, ter a sorte de passar por salas de aula nem sempre é garantia de melhoria de vida, dada a fraca qualidade do ensino. Tanto que a escassez de mão de obra qualificada é hoje um dos gargalos do crescimento econômico. A concentração da renda, a violência urbana, a precariedade do saneamento básico, a falta de cidadania, enfim, têm relação direta com o nível de instrução que a nação assegura a seus habitantes. Num círculo vicioso, cidadãos com formação deficiente ganham menos e se tornam mais vulneráveis e dependentes do Estado, que, mesmo cobrando alta carga de impostos, não consegue atendê-los. O Brasil precisa virar esse jogo. E o caminho é priorizar a educação.