Arena eleitoral
Gustavo Schimitt, Marco Grillo, Miguel Caballero e Ruben Berta
19/10/2016
Em debate agressivo, Freixo e Crivella trocam acusações sobre alianças, protestos e religião
No debate mais agressivo da campanha pela prefeitura do Rio, a 12 dias da votação, Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) trocaram fortes ataques na noite de ontem. Cordiais um com o outro nos encontros do primeiro turno, os adversários discutiram a respeito de convicções religiosas, aliados na campanha eleitoral e até sobre supostas relações com milicianos e traficantes durante o programa organizado pela RedeTV!.
Na primeira pergunta, Freixo abordou o livro em que Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, afirma que outras religiões são “diabólicas” e classifica a homossexualidade de “terrível mal”. O conteúdo da publicação foi revelado pelo GLOBO no domingo. Freixo questionou o fato de “alguém com tanto ódio” almejar o cargo de prefeito e citou especificamente os ataques aos católicos, segmento em que o adversário lidera nas pesquisas.
Crivella retrucou acusando o adversário de comandar os black blocs, grupo de mascarados que pratica atos de vandalismo em manifestações, e de ter as “mãos sujas de sangue” por isso.
— Eu gostaria que todos entendessem que o livro foi escrito há 25 anos, e a Igreja Católica da África não é a do Brasil. É diferente. Vivi num ambiente de guerra, feitiçaria e muita miséria. Reconheço que usei palavras erradas. Ódio mesmo é dos black blocs. Ontem (anteontem), eles foram para praça pública, afrontaram a polícia e fizeram escritos dizendo que vai voltar a anarquia. Os black blocs, sob seu comando, têm as mãos sujas de sangue. Mataram um trabalhador pelas costas. Ódio existe na militância do PSOL e inclusive sangue nas mãos de cada um de vocês — afirmou Crivella, lembrando a morte do cinegrafista Santiago Andrade, cuja família apoia Freixo.
O candidato do PSOL aproveitou a réplica para reafirmar que é contra atos de violência.
— O que você escreve não é o que você fala, e o que você fala não é o que você pensa. É grave. Sempre fui contra qualquer forma de violência. Não existe vínculo meu com black bloc ou forma de violência. Seu grupo prega a violência. Não foi na África que vocês chutaram a imagem da padroeira (Nossa Senhora Aparecida). Foi aqui. Vocês produzem ódio o tempo inteiro. Nunca defendi qualquer forma de violência, nem na minha fé e nem na minha fala — disse Freixo, relembrando um episódio em que um então bispo da Igreja Universal chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida.
O candidato do PRB afirmou que o adversário tinha uma postura “covarde”:
— Você agride de forma covarde, faz alusão de que sou ligado à violência. É mentira sem vergonha.
Freixo lembrou o apoio de Carminha Jerominho, ex-vereadora e filha de Jerominho, preso sob acusação de comandar a maior milícia do Rio. Após a divulgação do vídeo em que Carminha declara o voto, Crivella disse que não recusaria o apoio. Após ser questionado, o candidato do PRB demonstrou irritação:
— É impressionante o que você (Freixo) é capaz de fazer para obter o poder. No primeiro turno, estávamos conversando sobre os corruptos do PMDB. Disse a muita gente que não votasse em mim e votasse em você. Você é capaz de dizer que um pai de família, senador, tem apoio de milícia. Não vou baixar o nível e dizer que você é safado e vagabundo.
Em outro momento, Crivella afirmou que Freixo foi “conivente ou complacente com o tráfico de drogas”. O candidato do PSOL lembrou a aliança do adversário com Anthony Garotinho e afirmou que o período em que o ex-governador foi secretário de Segurança coincidiu com a fase de maior crescimento das milícias.
Crivella também afirmou que o candidato do PSOL vai aumentar o IPTU caso seja eleito. O candidato do PRB questionou se esta seria a medida correta em um momento de crise, afetando o “sofrido contribuinte”. Freixo ironizou o adversário, afirmando que ele tem “problemas com o que escreve e com o que lê”. O candidato do PSOL disse que não vai aumentar IPTU, mas fazer uma “revisão”.
No segundo bloco, Freixo respondeu sobre uma possível dificuldade de relacionamento com os governos federal e estadual, comandados pelo PMDB, partido ao qual o PSOL faz oposição:
— Estamos disputando uma eleição democrática, mas não mudo a opinião conforme o momento. Tenho coerência. Vou conversar.
O globo, n. 30389 , 19/10/2016. Economia, p. 20.