A eleição municipal terá pouco efeito imediato nas bancadas do Congresso Nacional, mostra levantamento do Valor nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O único partido com mudança significativa é o PCdoB, que ficará com três deputados a mais, e o PSDC, que voltará a contar com um deputado federal - aumentando a fragmentação partidária na Câmara.

As demais legendas não terão grandes alterações com a vitória dos congressistas nas disputas municipais. PMDB, PT, PSDB, PP, PR e PTB perderão um deputado e PPS, PSB e PSD ganharão um. Isso ocorre por causa das coligações partidárias, onde partidos se aliam na eleição para a Câmara e muitas vezes o suplente é de uma legenda diferente da do eleito.

Um exemplo é Luiz Carlos Busato (PTB-RS), eleito prefeito de Canoas. Ex-vice-líder do governo Dilma, e atual vice-líder do governo Temer depois de votar favoravelmente ao impeachment, o petebista dará lugar a um candidato de oposição ao atual ocupante do Palácio do Planalto: o ex-deputado Assis Melo (PCdoB), ligado a movimentos sindicais no Rio Grande do Sul.

No Senado, o suplente do senador Marcelo Crivella (PRB), prefeito eleito da Rio de Janeiro, também é do PRB. Eduardo Lopes, que assumirá a vaga, ocupa a presidência interina da sigla, além de acumular o comando da área política da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Crivella foi o único integrante do Senado que obteve sucesso nas eleições municipais.

Mudanças maiores na configuração da Câmara podem ocorrer a partir de 1º de janeiro, quando tomam posse os prefeitos e parte dos deputados costuma receber convites para atuarem em secretarias municipais. O próprio Crivella, por exemplo, cogita nomear dois deputados - Índio da Costa (PSD) e Clarissa Garotinho (PR) - para o secretariado.

Outro motivo para possíveis alterações é a articulação dos governadores para recomposição de forças depois da eleição municipal, buscando fortalecer o arco de alianças para a reeleição ou sucessão no Estado. Ao todo, 21 deputados estão licenciados para atuarem como secretários estaduais e dez como ministros. Nenhum está ausente por funções nos municípios.

Embora menos parlamentares federais tenham concorrido este ano, o que analistas atribuíram ao desgaste na imagem dos políticos por causa da operação Lava-Jato, à proibição das doações de empresas para as campanhas e as dificuldades financeiras dos municípios, o número de eleitos está próximo de anos anteriores: dos 83 candidatos, 15 venceram a disputa para prefeito e quatro se elegeram vices, taxa de 22,9%.

Em 2008, 86 deputados e três senadores concorreram, mas só 18 foram eleitos (índice de 20,2%). Quatro anos antes, 93 parlamentares foram candidatos e 20 saíram vitoriosos das urnas (21,5%). Das eleições mais recentes, 2016 só não se mostrou melhor que 2012, quando 25 dos 92 candidatos venceram (27,2%). Nos anos 1990, contudo, a taxa de sucesso era bem maior e chegou a um terço dos candidatos, em 1996, quando 41 deputados federais foram eleitos prefeitos.

Com a renúncia dos 18 deputados eleitos prefeitos ou vice-prefeitos, um dos que tomará posse é o vereador de Fortaleza Vaidon Oliveira (PSDC). Ele teve apenas 9.445 votos, mas é o primeiro suplente da coligação de Moroni Torgan (DEM), eleito vice-prefeito de Fortaleza e que recebeu 277 mil votos em 2014. Oliveira foi o 45º mais votado de todo o Estado, com oito vezes menos votos que o último eleito.

Junji Abe (PSD-SP), que há três meses desistiu de concorrer à Prefeitura de Mogi das Cruzes por sua família "sofrer bullying nas redes sociais" devido ao bloqueio de seus bens por acusação de superfaturar a compra de refeições para um hospital infantil, entrará no lugar de Edinho Araújo (PMDB), um dos principais aliados do presidente Michel Temer e que foi eleito prefeito de São José do Rio Preto.

Também tenta assumir o mandato o ex-deputado Osmar Bertoldi (DEM), que está preso há oito meses por acusação de estupro, sequestro e cárcere privado de uma ex-namorada.