Valor econômico, v. 17, n. 4124, 03/11/2016. Política, p. A6

Tucanos gerenciam rombo de R$ 11,8 milhões nas contas de campanha

Por: Fernando Torres

 

Se o PSDB foi o grande vencedor dessas eleições, é também o partido que contabiliza as maiores despesas eleitorais e também o maior déficit nas disputas em capitais, conforme levantamento feito pelo Valor com base nas prestações de contas de 204 candidatos disponíveis na tarde de segunda-feira no site do TSE.

Os candidatos tucanos que concorreram nessas cidades arrecadaram R$ 34,6 milhões (a segunda maior receita entre os partidos, levemente atrás do PMDB), dos quais R$ 14,3 milhões foram de verba partidária, e gastaram R$ 46,5 milhões, resultando em um rombo de R$ 11,8 milhões para ser coberto. O segundo maior déficit foi do PT, no valor de R$ 10,7 milhões, mas bastante concentrado em São Paulo.

O maior buraco entre os tucanos, e segundo em escala nacional, foi deixado por João Leite, candidato derrotado por Alexandre Kalil (PHS) no segundo turno em Belo Horizonte, que contratou despesas de R$ 9 milhões, ante uma arrecadação de R$ 3,7 milhões até segunda-feira.

Outros déficits relevantes das campanhas tucanas, todos entre os cinco maiores nas capitais, são os do futuro prefeito de São Paulo, João Doria, que era de R$ 3,4 milhões na segunda-feira (somava R$ 5,4 milhões ao fim do primeiro turno), e do prefeito reeleito de Manaus, Arthur Virgílio, também de R$ 3,4 milhões.

Logo depois de se eleger, Doria informou que buscaria mais doações e que, na eventualidade de haver falta de recursos, cobriria a diferença do próprio bolso. No dia 24, o futuro prefeito de São Paulo fez mais uma autodoação, no valor de R$ 1 milhão. No dia seguinte, foi a vez de o diretório nacional do PSDB, presidido pelo senador Aécio Neves (MG), fazer um aporte adicional de R$ 1 milhão.

Ainda em São Paulo, o atual prefeito e candidato derrotado no primeiro turno pelo PT, Fernando Haddad, é o dono do maior déficit individual de campanha, num total de R$ 8,9 milhões - respondendo por quase todo o rombo do PT.

Haddad, cuja campanha foi a mais cara do país - no valor de R$ 16,3 milhões - chegou a divulgar um vídeo nas redes sociais, após a derrota, pedindo colaboração financeira de seus eleitores, mas as doações recebidas pela internet somam até agora apenas R$ 204 mil, o que sugere que não será assim que o buraco será fechado.

Sucesso relativo de arrecadação pulverizada na internet teve o candidato derrotado Marcelo Freixo (Psol), do Rio, que levantou R$ 729 mil por esse canal, o que dá quase metade do total de R$ 1,5 milhão que o político captou na campanha - e que até segunda se mostrava no azul.

O rival de Freixo e vencedor da disputa, Marcelo Crivella (PRB), teve uma campanha sete vezes mais cara que a do oponente, com gastos totais de R$ 8,6 milhões. Conforme a prestação de contas, todo o gasto foi financiado com recursos do fundo partidário.

Numa eleição que não teve doações de empresas, por proibição legal, a autodoação, que em tese favoreceria candidatos ricos, chamou a atenção em alguns casos.

Além do caso de Doria, que injetou R$ 3,9 milhões na sua própria campanha, os prefeitos eleitos de Palmas, Carlos Amastha (PSB), e de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), aportaram R$ 3,8 milhões e R$ 2,2 milhões, respectivamente, do próprio bolso.

Esteve em Belo Horizonte o campeão nacional de autodoações entre os candidatos a prefeito: o pemedebista Rodrigo Pacheco injetou R$ 4,58 milhões na própria campanha, o que lhe deu a liderança no ranking de autodoação na disputa majoritária dos 5.568 municípios, embora tenha ficado em terceiro no primeiro turno, com 10% dos votos. O valor autodoado por Pacheco representa 17% dos R$ 26 milhões que ele declarou em bens à Justiça Eleitoral.

Fora das capitais, o candidato mais rico que disputou as eleições deste ano, Vittorio Medioli, do PHS - com patrimônio de R$ 352 milhões - fez uma autodoação de R$ 3,9 milhões (a única recebida) e venceu a eleição em Betim (MG).

Azarão da disputa em Porto Velho, Dr. Hildon bancou R$ 1,6 milhão dos R$ 2,1 milhões que irrigaram sua campanha. Seu rival no segundo turno, Léo Moraes (PTB), teve acesso a menos da metade dos recursos totais.

Diferença relevante ocorreu também em Boa Vista. Favorita à reeleição, que foi confirmada nas urnas no primeiro turno, a prefeita Teresa Surita (PMDB), arrecadou um total de R$ 1,7 milhão - sendo 100% destinados por diferentes diretórios do partido, presidido pelo ex-marido Romero Jucá -, em comparação com os R$ 514 mil de Abel Galinha (DEM), segundo que mais captou recursos na cidade.

Entre os prefeitos eleitos em 25 capitais para as quais havia dado disponível, 13 foram também os líderes em gastos. Em outras 8 cidades os vencedores ficaram em segundo no ranking de despesas.

Apenas Rafael Greca (PMN), em Curitiba, e Kalil, em Belo Horizonte foram eleitos sem estar entre os dois mais gastaram durante a campanha. Nas 57 cidades onde houve segundo turno, os prefeitos eleitos gastaram, em média, R$ 1,4 milhão (mediana de R$ 840 mil), de acordo com o Valor Data. Os segundos colocados tiveram despesa média de R$ 1,2 milhão (mediana de R$ 608 mil).

Conforme os dados disponíveis até segunda-feira, a disputa eleitoral para prefeito nas capitais gerou despesas de R$ 217,6 milhões, ante uma receita total de R$ 198,3 milhões, resultando em um déficit global de R$ 19 milhões.

Contudo, essa cifra esconde um rombo maior. Isso porque as candidaturas que estão no vermelho não podem reduzir o déficit com dinheiro de outros políticos que fecharam a campanha com sobra de caixa. Quando se analisa apenas os déficits acima de R$ 5 mil, há um total de 45 candidatos que terão que tapar um rombo de R$ 44,3 milhões - e sem contar com doações empresariais.

Do total de R$ 198,3 milhões arrecadado pelas campanhas a prefeito nas capitais, uma fatia de R$ 104,4 milhões, ou 52%, foi custeada com o fundo partidário.