Serra acha que escolha favorecerá Brasil
Catarina Alencastro, Simone Iglesias e Gabriela Valente
07/10/2016
Guterres diz que trabalhará com o país e elogia multilateralismo.
-BRASÍLIA- O novo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, disse ao ministro das Relações Exteriores, José Serra, que trabalhará conjuntamente com o Brasil e que o país é um sólido pilar do multilateralismo. A mensagem foi enviada ao brasileiro ontem, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO.
Foi uma resposta a uma mensagem de Serra. Nela, o chanceler brasileiro disse que via com grande satisfação a nomeação de Guterres. Ressaltou a longa experiência política e exemplar condução de altos cargos internacionais, além da habilidade diplomática como alto comissário das Nações Unidas para Refugiados. E colocou-se à disposição para trabalhar conjuntamente. Questionado sobre os ganhos que o Brasil pode ter com a indicação, como as negociações para ter assento permanente no Conselho de Segurança, José Serra sugeriu que a indicação de Guterres pode render frutos.
— Vamos ter um quase brasileiro lá. A proximidade de diálogo vai aumentar naturalmente.
ESPECIALISTAS MINIMIZAM VANTAGENS
Ao apresentar sua candidatura, em julho, Guterres defendeu a antiga demanda do Brasil de ampliação do Conselho de Segurança, embora sem citar o nome do país. Para ele, o órgão tem problemas de representatividade por não ter membros permanentes da América Latina e da África. Mas Guterres disse que a ampliação tem de resultar de consenso entre os membros do Conselho, e que ele não iria tentar impor nada.
Outros países como Índia, Japão, Alemanha e África do Sul também fazem há anos campanha para a ampliação do órgão, cuja representação permanente espelha a configuração de potências vencedoras da Segunda Guerra.
Ainda assim, para especialistas em relações internacionais ouvidos pelo GLOBO, a escolha de um português para chefiar a ONU terá uma influência “muito modesta” para o Brasil, restringindo-se, de certa forma, às facilidades de haver uma língua em comum. Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Pio Penna acredita que não haverá benefícios ao Brasil.
— Ele é português, fala português, é algo que facilita. Mas para na língua. O Brasil não será beneficiado. O poder de um secretário-geral é limitado, mesmo Guterres sendo um bom nome, uma pessoa equilibrada, de bom senso — afirma Penna.
O ex-embaixador e ex-ministro da Indústria José Botafogo Gonçalves acredita que um português no cargo de secretário-geral da ONU “ajudará pouco, do ponto de vista dos interesses brasileiros”.
— Seria algo muito modesto. O fato de falar a mesma língua facilitará o contato e o entendimento, pois há uma simpatia, uma convivência. Mas as questões são mais amplas — diz Botafogo.
O globo, n. 30377, 07/10/2016. Mundo, p.23