Foco na saúde

 

30/10/2016
Míriam Leitão

 

Os gastos federais com saúde estão estagnados desde 2013, em termos per capita. Não é a PEC 241 que ameaça o setor, mas a crise fiscal e a recessão. O aumento do desemprego, da inadimplência nos planos de saúde, e a menor filantropia das empresas nos hospitais estão sobrecarregando o SUS. Já a volta da confiança e a queda do dólar estão barateando o investimento em equipamentos importados.

Oeconomista André Cezar Médici é especialista na área e edita o blog Monitor de Saúde. Ele apoia a aprovação da PEC 241 com um argumento bastante simples: é ilusão achar que a saúde vai bem enquanto a economia vai mal. Médici fez uma análise sobre os gastos federais per capita no setor e concluiu que os impactos na área começaram com a desaceleração do PIB.

“Durante o período 2004-2015, a alta do gasto público federal per capita com saúde foi de apenas 3,5% ao ano, ligeiramente maior que o crescimento do PIB no período (3,2% ao ano). Entre 2012 e 2015, os gastos públicos per capita em saúde do Governo Federal caíram de R$ 500,96 para R$ 489,27 (-2,3%)”, escreveu no blog.

Em entrevista à coluna, o economista lembrou que a PEC antecipou de 2020 para 2017 o início do piso mínimo para a saúde, o que aumentou em R$ 10 bilhões os recursos da pasta. Além disso, disse que a despesa pública com a área, em relação ao gasto total federal, é baixo. Ou seja, a partir do momento em que o país começar a discutir melhor a distribuição do Orçamento, a partir da aprovação da PEC, a saúde pode, de fato, se tornar prioridade.

O diretor de um grande hospital da região metropolitana de Vitória também diz que é a recessão que está impactando o setor:

— Com a crise, cresceu o desemprego e as pessoas perderam plano de saúde e foram ao SUS. As empresas estão com menos caixa para filantropia e há inadimplência nos planos. O dólar alto encareceu equipamentos. Superar a crise econômica é essencial.

No início do ano, o hospital orçou em R$ 7 milhões o investimento de uma máquina de radioterapia. (...)

 

Baixa produtividade

O país está ficando para trás. A produtividade do trabalhador da indústria brasileira em relação aos nossos 11 principais parceiros comerciais caiu 32% entre 2000 e 2015. O estudo da CNI considera a produção por hora trabalhada e não tem efeito do câmbio. José Augusto Fernandes, diretor da CNI, conta que a queda é resultado do baixo investimento e da pouca preparação do trabalhador, entre outros pontos. Ele diz que elevar a produtividade é tão importante quanto buscar novos acordos de comércio.

 

Fechado ao mundo

A participação da indústria brasileira nas exportações também caiu nos últimos anos, e não foi apenas pela influência do câmbio. Fernandes, da CNI, explica que as políticas públicas para a indústria eram mais voltadas à proteção do que à abertura. O país não se adaptou ao novo mundo das cadeias globais de valor, diz ele. China e Coreia do Sul conseguiram.

 

O globo, n. 30400, 30/10/2016. Economia, p. 44