Defesa de Lula bate boca com Moro durante audiência

Ricardo Brandt, Fausto Macedo, Julia Affonso e Mateus Coutinho

22/11/2016

 

 

Depoimento de Delcídio Amaral em processo contra ex-presidente em Curitiba é marcado por momento de tensão.

Primeira testemunha de acusação no processo em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu na Operação Lava Jato, o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) foi ouvido ontem pelo juiz Sérgio Moro, em Curitiba. A audiência foi marcada por bate-boca entre advogados do petista e o magistrado.

Defensores de Lula que acompanharam o depoimento alegaram que o juiz da Lava Jato estava permitindo ao procurador da República que representou o Ministério Público Federal fizesse perguntas fora do âmbito da denúncia formal – o ex-presidente é réu por corrupção e lavagem de dinheiro relacionado a um triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo.

As altercações predominaram em toda a sessão, mas atingiram níveis de alta tensão após vinte minutos de depoimento.

Delcídio falava sobre o suposto “conhecimento” de Lula sobre os negócios da Petrobrás, quando um dos advogados, Cristiano Zanin Martins, o interrompeu.

“Excelência, pela ordem, estamos falando de três contratos celebrados com uma empreiteira”, disse. “Vossa Excelência me permite, quando pedimos a produção de provas Vossa Excelência foi muito claro e enfático ao dizer que a acusação se restringia a três contratos que envolvem uma empresa”, insistiu o advogado.

Ao indeferir o pedido do advogado, Moro disse que as interrupções da defesa eram “inapropriadas”.

Outro advogado de Lula, o criminalista José Roberto Batochio, também interferiu.

“Pode ser inapropriado, mas perfeitamente jurídico e legal.” Moro, então, retomou. “Estão tumultuando a audiência.” Batochio foi à réplica. “O juiz preside (a audiência), o regime é presidencialista, mas o juiz não é dono do processo. Aqui os limites são a lei. A lei é a medida de todas as coisas e a lei do processo disciplina esta audiência.

A defesa tem o direito de fazer uso da palavra.” Quando Moro mandou prosseguir a audiência, um terceiro advogado de Lula pegou o microfone.

O juiz não admitiu nova interrupção e cortou a gravação.

Depoimento. Em seu depoimento, Delcídio afirmou que Lula “tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobrás”.

“O (ex-)presidente não entrava nos detalhes, mas ele tinha um conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobrás e as diretorias e os partidos que apoiavam os diretores.” O ex-líder do PT no Senado afirmou, porém, que nunca teve uma reunião com Lula sobre o esquema de arrecadação, mas disse que tinha “conhecimento absoluto” no esquema de loteamento político das diretorias da Petrobrás, entre partidos da base aliada.

A defesa de Lula nega qualquer envolvimento do ex-presidente com esquema de corrupção ou lavagem de dinheiro da Petrobrás.

 

O Estado de São Paulo, n. 44961, 22/11/2016. Política, p.A5