Base no Congresso faz ofensiva de apoio a Geddel

Tânia Monteiro, Erich Decat, Isabela Bonfim, Andrei Neto, Daniel Weterman e Julia Lindner

23/11/2016

 

 

Esplanada. Líderes parlamentares e presidentes da Câmara e do Senado defendem permanência de ministro da Secretaria de Governo; Planalto impõe lei de silêncio no caso.

Um dia após a Comissão de Ética Pública da Presidência da República abrir investigação que pode comprometer sua permanência na equipe do presidente Michel Temer, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, recebeu apoio de líderes de partidos da base aliada na Câmara, que montaram um operação para blindá-lo.

No Palácio do Planalto, na tentativa de virar a página da crise, Temer também impôs uma espécie de “lei do silêncio” a seus auxiliares e pediu que os ministros ficassem calados sobre a denúncia envolvendo Geddel. A intenção do presidente é manter o seu articulador político no cargo, mas tudo depende do desdobramento do episódio. Geddel foi acusado pelo ministro demissionário da Cultura, Marcelo Calero, de fazer pressão para liberar a construção de um prédio em Salvador, onde comprou um apartamento, nos arredores de uma área tombada.

Embora a operação do Planalto para angariar apoio a Geddel tenha surtido efeito, assessores de Temer lembram que o ministro continua sob fogo cruzado. O receio é de que surjam novas acusações e, ainda, que a decisão da Comissão de Ética jogue por terra todo o esforço para preservá-lo no cargo. 

Apoio. Em carta assinada por 27 líderes e vices de partidos da base aliada, os parlamentares expressam “amplo e irrestrito apoio e confiança” em Geddel e destacam que o seu trabalho “está sendo conduzido de maneira técnica”. No documento, os parlamentares ressaltam que Geddel tem demonstrado “conhecimento e destreza necessários para realizar a articulação política do governo e coordenar o relacionamento do presidente da República com o Congresso, movimentos sociais e partidos políticos”. O ministro agradeceu o apoio.

Em outra frente, a Comissão de Educação foi esvaziada por senadores da base do governo e não teve quórum para votar requerimentos de convocação de Geddel para se explicar.

Já na Câmara, em mensagem encaminhada aos líderes da base aliada ontem à tarde, integrantes do gabinete de André Moura (PSC-SE), líder do governo, articulam uma blindagem a Geddel.

No texto, a que o Estado teve acesso, um dos subordinados de Moura diz que a liderança do governo pede aos servidores que orientem deputados da base a comparecerem aos colegiados onde constam pedidos de convocação de Geddel e de Calero.

Pela manhã, os líderes já haviam endossado a permanência do ministro no cargo durante reunião no Planalto. Segundo parlamentares presentes ao encontro, Geddel chegou a chorar ao fazer a sua defesa e lembrar que muitos o chamam de “chucro” e que até o cantor Renato Russo o apelidou de “Suíno” na infância. Disse ter herdado o “jeito despachado” do pai, o ex-deputado Afrísio Vieira Lima, que morreu no início do ano.

Moura disse que “não há nada de estranho” no apoio dos parlamentares: “Seria um grande prejuízo se ele deixasse o cargo”, afirmou.

Na mesma linha foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Precisamos que o ministro Geddel continue no governo com a certeza de que esse papel que ele exerce foi vital na nossa vitória da PEC do Teto e vai ser fundamental na nossa vitória da reforma da Previdência”, disse.

Já para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a polêmica envolvendo o ministro “já está superada”.

“Acho que esse é um fato superado.

Parece que houve uma interpretação indevida. O bom é que isso fique para trás e que a convergência seja novamente construída”, afirmou Renan. Considerar o caso encerrado também foi o tom adotado pelo governo na tentativa de blindar Geddel.

O secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, que chegou a dizer anteontem, em Paris, que Temer estava “muito preocupado” com o assunto e não garantiu a permanência de Geddel, ontem mudou o tom. Pediu para “mudar de assunto” e afirmou que Temer tomou uma decisão que “precisa ser respeitada”.

Anteontem, após a declaração, Moreira recebeu uma ligação de Geddel. Os dois discutiram ao telefone. Temer ficou contrariado ao saber da “fritura” entre seus auxiliares. 

Prazo. A Comissão de Ética já entregou ao ministro notificação para que ele apresente suas explicações no prazo de dez dias. O conselheiro Marcelo de Oliveira Figueiredo Santos, nomeado por Dilma no ano passado, será o relator do caso.

A próxima reunião da comissão está marcada para o dia 14 de dezembro. 

Suporte

“Precisamos que o ministro Geddel continue no governo.”

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

PRESIDENTE DA CÂMARA

“Acho que esse é um fato superado. Parece que houve uma interpretação indevida. O bom é que isso fique para trás e que a convergência seja novamente construída.”

Renan Calheiros (PMDB-AL)

PRESIDENTE DO SENADO

O CASO

Demissão

Marcelo Calero pede demissão do Ministério da Cultura na sexta-feira. Em entrevista, ele cita pressão de Geddel Vieira Lima para aprovar edifício no centro histórico de Salvador, contrariando decisão do Iphan.

Corrupção

Em evento no Rio, no sábado, Calero volta a acusar o ministro-chefe da Secretaria de Governo de pressioná-lo pela aprovação do empreendimento imobiliário. “Não desejo a ninguém estar diante de uma pressão política, claramente um caso de corrupção”, afirma.

Admissão

Em entrevistas, Geddel admite ter tratado sobre o tema com Calero, mas disse que o ex-ministro contou “verdades e inverdades”. “Qual a imoralidade que há em tratar desse tema com um colega meu?”

Decisão

Apesar da denúncia, o presidente Michel Temer manda o porta-voz Alexandre Parola anunciar, na segunda-feira, que Geddel fica no cargo. A situação do ministro, porém, é considerada “delicada” e há receio de que novas acusações inviabilizem sua permanência. 

Investigação

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República volta atrás e abre processo, por unanimidade, para investigar o caso. Antes, o conselheiro José Leite Saraiva Filho, indicado por Geddel, havia pedido vista.

 

O Estado de São Paulo, n. 44962, 23/11/2016. Política, p.A4