Artistas defendem parecer do Iphan em abaixo-assinado

Valmar Hupsel Filho

23/11/2016 

 

 

Artistas e intelectuais como Caetano Veloso, Tom Zé, Luís Fernando Veríssimo, Otto, Wagner Moura, Xico Sá, Anna Muylaert e Nana Caymmi subscreveram um abaixo assinado reivindicando que a construção do edifício La Vue, em Salvador, respeite os limites impostos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan) de 13 pavimentos.

O empreendimento é o epicentro da crise política no governo federal desde que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusou o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, de pressioná-lo a aprovar o empreendimento com 30 andares.

Geddel nega a pressão, mas diz que comprou um apartamento no edifício.

O texto do abaixo-assinado pede que seja respeitado o parecer do Iphan. “O projeto terá um impacto brutal sobre a paisagem do sítio histórico do Porto da Barra, uma das mais belas praias urbanas do mundo e patrimônio precioso da primeira capital do Brasil”.

Sem citar o nome de Geddel, os signatários também criticam a pressão que teria sido feita pelo ministro, que afirmou ter comprado um apartamento no edifício. “São reprováveis as pressões imobiliárias de toda natureza sobre os órgãos estaduais e federais de proteção. Esperamos que o Iphan defenda os interesses públicos dos baianos e dos brasileiros, assegurando o gabarito baixo da referida obra e preservação das paisagens históricas e ambientais de Salvador”, diz o text0. 

Protesto. Em outra frente de manifestações, ativistas organizam para a próxima sexta-feira um ato frente às obras do edifício La Vue para protestar contra o empreendimento.

O protesto, chamado de Ocupa La Vue, está sendo organizado pelo coletivo Subverso, o mesmo que já realizou atos na capital baiana contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241/55, que limita os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos. A expectativa do grupo, que se apresenta como “horizontalizado” e, portanto, sem lideranças ou representantes, é atrair mais de mil pessoas.

“Um ministro de Estado sair de seus cuidados para pressionar um órgão que trabalha na preservação do patrimônio a mudar parâmetros técnicos para permitir a construção de um espigão já seria um absurdo. Porém, quando um ministro faz isso advogando em causa própria, pois proprietário de um luxuoso apartamento no referido e ilegal empreendimento, isso já ultrapassa o escárnio”, diz o texto de apresentação do protesto no Facebook. 

Prefeito. A movimentação de ativistas contrasta com a ausência de discussão sobre o assunto no meio político local. Procurado pelo Estado, o prefeito ACM Neto (DEM) não se manifestou sobre o assunto.

 

O Estado de São Paulo, n. 44962, 23/11/2016. Política, p.A5