A memória falha dos Cabral

Mateus Coutinho, Julia Affonso e Ricardo Brandt

23/11/2016

 

 

Uma reforma em casa, a blindagem de carros, a compra de joias e obras de artes. Gastos nada triviais que simplesmente “escaparam” das lembranças do ex-governador do Rio Sérgio Cabral ou de sua mulher, Adriana Ancelmo, nos depoimentos à Polícia Federal.

Preso na quinta-feira passada, suspeito de chefiar um esquema de desvios em contratos públicos no Estado, o peemedebista relatou que, no fim de 2010, precisou deixar por alguns dias o imóvel em que morava “devido a necessidade de obra” e foi morar em um apartamento emprestado por um amigo.

Questionado, porém, sobre quem teria contratado a obra e comprado o mobiliário para sua residência, ele disse “não se recordar”.

Em relação às joias e obras de arte que possui, o ex-governador também demonstrou não saber muito sobre o assunto. Disse que “não saberia precisar” se eles valiam mais de R$ 100 mil e que “alguns foram adquiridos por sua esposa ou recebidos de presente”. Confrontado com o depoimento de donos de joalherias, que asseguraram ter Cabral como cliente, a memória do ex-governador falhou novamente ao ser questionado como pagou os itens. “O indiciado afirma que não se recorda”, registrou a PF.

A advogada Adriana Ancelmo, levada para depor coercitivamente pela PF, também foi na mesma linha ao ser questionada como pagou a blindagem de seus carros.

“Possui três veículos, todos blindados; que não se recorda se efetuou o pagamento de blindagem de veículos, em espécie; que não se lembra de ter adquirido móveis para seu escritório ou para a sua residência nos últimos anos”, relata trecho do depoimento da mulher de Cabral. 

 

O Estado de São Paulo, n. 44962, 23/11/2016. Política, p.A7