PF apura se Cabral tentou eliminar provas

 
20/11/2016
Mariana Sallowicz

 

As investigações sobre a existência de uma organização criminosa que seria chefiada pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral indicam tentativas de eliminar provas sobre o suposto esquema.

As medidas teriam sido tomadas em meados deste ano.

Segundo apurou o Estado, os investigadores suspeitam que Cabral estava tentando “limpar a casa” porque já suspeitava que poderia ser alvo de alguma ação.

Na decisão que determinou a prisão do ex-governador, são citadas algumas dessas situações, como a contratação de uma assessora pessoal apenas em setembro deste ano.

Até então, ela era empregada por um ex-assessor do peemedebista, Paulo Fernando Magalhães Pinto. A suspeita é de que o ex-assessor era laranja de Cabral.

O ex-governador teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira passada como resultado da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato.

Ele é acusado de pelos crimes de organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.

Outro indício de tentativa de regularizar situação fraudulenta, apontado pela PF, foi a venda de um helicóptero, registrado em nome de uma empresa do ex-assessor de Cabral,  para uma empresa nos Estados Unidos também em setembro. A suspeita é de que Cabral seria o dono do helicóptero e teria se desfeito dele como precaução de um possível bloqueio do bem em meio às investigações.

Procurada ontem, a defesa de Cabral não atendeu as ligações.

A defesa de Magalhães Pinto informou, em nota, que o helicóptero“ era de propriedade da família e nunca foi usado por Cabral”.

 

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Juiz diz que Garotinho tentou suborná-lo

 
20/11/2016
Clarissa Thomé

 

A Polícia Federal vai apurar a denúncia de que o ex-governador Anthony Garotinho e seu filho Wladimir Matheus ofereceram propinas de R$ 1,5 milhão e R$ 5milhões para influenciar decisões do juiz eleitoral Glaucenir Silva de Oliveira, da 100.ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, que decretou a prisão preventiva do ex-governador na Operação Chequinho. A tentativa foi relatada pelo próprio magistrado, que encaminhou representação ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral, segundo o Ministério Público.

O pedido de instauração de inquérito partiu do procurador regional eleitoral Sidney Madruga.

Ele solicita a investigação da denúncia de que pai e filho teriam oferecido, “por intermédio de terceiros, ‘quantias milionárias’ a pessoas conhecidas pelo juiz” a fim de obter decisões favoráveis e evitar a prisão de ambos.

No ofício, Madruga ressaltou a gravidade dos fatos apontados,“ que configurariam caso explícito de corrupção”. A oferta de propina ao juiz ocorreu em duas ocasiões, por pessoas diferentes.“ O juiz buscou não revelar, num primeiro momento, para não interferir nas decisões.

Mas, diante dessa situação, encaminhou representação ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral. Os fatos são muito graves.

Atingem a toda a Justiça Eleitoral.

Ele é reconhecido como competente e incorruptível”, disse Madruga.

De acordo com o procurador eleitoral, além do oferecimento de propina, a Procuradoria Regional Eleitoral recebeu denúncia de ameaça a um promotor de Campos dos Goytacazes.

Ele também encaminhou ofício à Superintendência da Polícia Federal, para obter informações sobre uma possível tentativa de interferência nos trabalhos do delegado Paulo Cassiano, que investiga um esquema de compras de votos em Campos.

“Houve representação contra o delegado pelo grupo de Garotinho, e a Corregedoria da Polícia Federal pediu a avocação do inquérito para fazer correição.

Isso pararia as investigações. Ao decretar a prisão de Garotinho, o juiz já falava dessa possível interferência.

E ele não permitiu a avocação do inquérito, determinou que permanecesse em cartório.

E o fez acertadamente, ao meu ver. A correição pode ser feita em outro momento. Encaminhei esse ofício à Superintendência da PF”, disse Madruga.

O procurador regional eleitoral não quis detalhar a ameaça sofrida por um integrante do Ministério Público em Campos. O episódio também teria ocorrido durante as investigações da Operação Chequinho.“ Não temos medo, mas isso mostra tentativas de interferência direta nos três órgãos – no Ministério Público, na Polícia Federal e na Justiça.” O procurador também expediu ofícios em caráter de urgência ao MP Estadual e para o TRE-RJ, em que pede que a promotoria em Campos dos Goytacazes “tome as medidas necessárias para reprimir possíveis ilícitos criminais e eleitorais cometidos por pai e filho”.

O advogado de defesa da família de Garotinho, Fernando Augusto Fernandes, informou que entrará com representação contra o juiz Glaucenir Oliveira pelo crime de denunciação caluniosa.

“As atitudes do juiz, as cenas grotescas da semana passada e o abuso de autoridade merecem resposta unicamente jurídica”, afirmou.

 

Fuga. Escutas telefônicas feitas pela PF mostram que o Garotinho temia ser preso e deixou Campos quando os vereadores Miguel Ribeiro Machado, o Miguelito, e Ozéias Martins, foram presos sob acusação de utilizar o programa Cheque Cidadão para a compra de votos, em 19 de outubro. Na gravação, divulgada pela Rádio CBN, Garotinho dá a entender que deixou a cidade assim que soube da prisão dos vereadores e demonstra preocupação com testemunhas. A prisão do ex-governador foi determinada porque testemunhas teriam sido coagidas a mudar seus depoimentos.

O ex-governador está internado no Hospital Quinta D'Or, depois de ter passado uma noite em hospital que fica dentro do Complexo Penitenciário de Gericinó, Em Bangu, na zona oeste do Rio.

Ele será submetido a exames.

 

Oferta

R$ 5 milhões é o valor que o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da 100.ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, afirmou ter sido oferecido a ele em uma das ocasiões para favorecer Garotinho em decisões

 

O Estado de São Paulo, n. 44959, 20/11/2016. Política, p. A10