Cabral pagava em espécie joias levadas a sua casa

Julia Affonso, Fausto Macedo,  Mateus Coutinho e Ricardo Brandt

24/11/2016

 

 

Diretora da H.Stern afirma à Polícia Federal que chegou a vender peças de até R$ 100 mil para ex-governador; ele diz ‘não se lembrar’ das compras. 

A diretora comercial da joalheria H.Stern, Maria Luiza Trotta, afirmou em depoimento à Polícia Federal que levava joias, anéis de brilhante e pedras preciosas à casa de Sérgio Cabral (PMDB) para que o ex-governador e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, fizessem uma “seleção” da peça a ser escolhida.

Segundo ela, os pagamentos era feitos em espécie.

A informação foi antecipada ontem pelo portal estadão.com.

br. “Chegou a vender joias no valor de até R$ 100 mil a Sérgio Cabral, tais como anéis de brilhante ou outros tipos de pedras preciosas, sendo o pagamento ainda que em tais quantias realizado em dinheiro”, afirmou Maria Luiza, que disse trabalhar na H.Stern há 34 anos.

O depoimento da diretora da joalheria foi prestado em 17 de novembro, quando foi deflagrada a Operação Calicute, que prendeu Cabral preventivamente.

O ex-governador está detido em Bangu 8. No mesmo dia, Cabral também prestou depoimento à PF e afirmou categoricamente que “não se lembrava” de ter adquirido joias.

Segundo a diretora, o dinheiro em espécie era levado a uma loja da joalheria, em Ipanema, por Carlos Miranda – apontado pela Calicute, desdobramento da Operação Lava Jato, como o “homem da mala” de Cabral. 

Atendimentos. A testemunha revelou à PF que passou a atender pessoalmente o peemedebista quando ele ainda estava no comando do Governo do Rio, em 2013. Cabral foi governador em dois mandatos, de 2007 a 2014.

“Os atendimentos feitos pela declarante a Sérgio Cabral sempre foram feitos no interior da residência deste; que, os atendimentos eram agendados com a declarante por Carlos Miranda  ou algum outro/a secretário/a de Sérgio Cabral; que, a declarante então, nesses encontros na casa de Sérgio Cabral levava joias de amostragem, as quais eram selecionadas ou não pelo próprio Sérgio Cabral ou por sua esposa”, contou ela.

Segundo Maria Luiza, o ex-assessor de Cabral “ou outros portadores não identificados do dinheiro em espécie eram dirigidos à tesouraria”. A diretora comercial da H.Stern não soube informar sobre a emissão de notas fiscais. “Todas as joias tinham certificados que eram entregues a Sérgio Cabral e/ou esposa, sendo certo que a empresa não guarda cópia de tais certificados por questão de confidencialidade.” A diretora informou que Carlos Bezerra, a quem a PF atribui o papel de operador de propinas de Cabral, pode ter atuado “como portador de valores de pagamentos de joias compradas pelo ex-governador”.

Em depoimento à PF, no dia em que foi preso, Cabral declarou que “não se recorda” das compras das joias. O peemedebista se disse também “indignado” com as “mentiras” dos delatores que afirmaram ter pago propinas a ele e seus aliados referentes a obras do governo do Rio.

A assessoria da H. Stern informou que a empresa não vai comentar o caso.

1ª visita na cadeia

A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo obteve autorização especial da Secretaria de Administração Penitenciária para visitar ontem o marido, o ex-governador Sérgio Cabral, em Bangu 8.

Presente. Cabral e Adriana, que ganhou anel de R$ 800 mil.

 

O Estado de São Paulo, n. 44963, 24/11/2016. Política, p.A7