Base aliada barra convocação de Geddel na Câmara

Isadora Peron, Tânia Monteiro e Carla Araújo

24/11/2016 

 

 

Atuação do governo para ‘blindar’ ministro suspeito de tráfico de influência dá resultado; presidente de comissão se diz impedido. 

Depois da atuação do governo, deputados da base aliada rejeitaram ontem novos pedidos para convocar o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) a dar explicações sobre a denúncia de tráfico de influência feita pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.

Anteontem, integrantes do gabinete do líder do governo, André Moura (PSC-SE), encaminharam mensagem a parlamentares da base para tentar blindar o ministro e pediam que os deputados comparecessem às comissões para evitar a convocação, considerada “sensível” para o governo.

Ao todo, dez requerimentos foram apresentados na Comissão de Cultura da Casa após Calero pedir demissão na sexta-feira passada. Ele apontou como um dos motivos de sua saída a pressão que sofreu de Geddel para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizasse a construção de um empreendimento imobiliário em Salvador no qual comprou um apartamento.

Requerimentos na comissão que pediam a convocação de Geddel foram barrados por 13 votos a cinco. Os demais, também rejeitados, tratavam da ida de Calero à comissão, da realização de audiências públicas sobre o caso e da convocação da presidente do Iphan, Kátia Bogea. O argumento dos deputados da base foi que não seria preciso que Geddel viesse à Câmara se explicar porque o caso já está sendo investigado pela Comissão de Ética da Presidência.

Para evitar que os pedidos fossem rejeitados, deputados da oposição tentaram substituir os requerimentos de convocação por uma alternativa mais branda, um convite para Geddel vir à comissão. A diferença é que, quando um ministro é convocado, ele é obrigado a comparecer. Mesmo assim, a estratégia foi derrubada pelos aliados do governo.

“Se os líderes são paladinos da moral e estão seguros das atitudes de Geddel, porque não deixar o ministro vir se explicar à comissão”, questionou o deputado Pedro Uczai (PT-SC), autor de um dos requerimentos.

O deputado Jean Willys (PSOL-RJ) também protestou contra a atuação do grupo governista e disse ter ficado surpreso com a quantidade de deputados na comissão, que costuma ter reuniões esvaziadas.

“Vossas Excelências sabem o quanto nós trabalhamos para conseguir o quórum mínimo para poder manter a pauta”, disse.

Pela manhã, o líder do governo já havia participado da sessão da Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara onde também foi apreciado - e rejeitado - um requerimento. 

Comissão de Ética . Indicado por Geddel para a Comissão de Ética da Presidência, o conselheiro José Saraiva decidiu ontem que não vai votar no processo contra o ministro da Secretaria de Governo. Saraiva enviou um requerimento ao presidente do colegiado, Mauro Menezes, em que comunicou a decisão.

Saraiva também advogado da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia, entidade que representa as construtoras no Estado, entre elas, a Cosbat, responsável pelo empreendimento La Vue , em Salvador, onde Geddel comprou um apartamento.

A informação foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Explicações

“Se os líderes são paladinos da moral e estão seguros das atitudes de Geddel, por que não deixar o ministro vir se explicar à comissão?”

Pedro Uczai

DEPUTADO ( PT-SC)

 

O Estado de São Paulo, n. 44963, 24/11/2016. Política, p.A9