AVASSALADOR - Crivella dominou área que decidiu eleição

Fábio Vasconcellos e Daniel Lima

01/11/2016

 

 

Corredor de 2,4 milhões de eleitores, com votação pulverizada no 1º turno, foi conquistado por candidato do PRB

 

Um corredor do Recreio à Zona Norte, com 2,4 milhões de eleitores, identificado ao fim do primeiro turno no Rio como a área a ser disputada pelos dois candidatos para a definição do vencedor, foi quase totalmente dominado por Marcelo Crivella (PRB) no segundo turno.

Levantamento do Núcleo de Dados do GLOBO mostra que Crivella conseguiu 58,6% dos votos nessa região, com reversão de votos até em redutos considerados mais próximos de Marcelo Freixo (PSOL), como parte da Barra da Tijuca e Ipanema, onde ele teve votação melhor que seu adversário no primeiro turno.

A primeira análise feita pela equipe do jornal, logo após o resultado do primeiro turno, mostrou que os dois candidatos tinham regiões distintas de domínio eleitoral, nas quais tinham forte probabilidade de ampliar a votação na segunda fase da disputa. Essas áreas, formadas pelo Zona Oeste para Crivella e Zona Sul e parte da Grande Tijuca para Freixo, indicavam que a diferença entre os dois era forte, com baixa chance de um reverter votos do seu adversário. Crivella registrara votação acima de 30% em todas as áreas em azul no mapa do primeiro turno (com um contingente de 1,4 milhões de eleitores), e Freixo tivera votação consistente em zonas eleitorais de bairros na Zona Sul e parte da Grande Tijuca, onde votam cerca de 900 mil eleitores.

Já a área em disputa, com 2,4 milhões de eleitores, que compreende o Recreio e avança em parte de Jacarepaguá e bairros da Zona Norte, representava locais onde um ou outro não havia tido uma diferença substancial sobre o adversário. Qualquer um dos dois poderia ampliar sua votação.

O novo levantamento mostra que Crivella ficou com a maior parte dos votos da área em disputa. Ou seja, Crivella foi eleito não só porque ampliou sua votação em zonas eleitorais na Zona Oeste, onde já era forte, mas também porque virou a seu favor áreas dentro do corredor do Recreio à Zona Norte em que ele e Freixo tiveram desempenhos semelhantes ou com pequenas diferenças no primeiro turno.

Exemplo significativo é o da 9ª Zona Eleitoral, que compreende bairros como Barra da Tijuca, Camorim, Recreio e Vargem Grande. No levantamento do Núcleo de Dados sobre as áreas onde cada um consolidou sua votação e as regiões com o voto mais aberto, essa localidade estava numa região considerada “em disputa”, sem domínio claro de nenhum dos dois candidatos: No primeiro turno, Freixo teve 18,2% e Crivella, 17,4%. No segundo turno, o prefeito eleito avançou 43,5 pontos percentuais, contra 20,1 de Freixo.

No mapa, que compara o desempenho dos dois candidatos no primeiro turno, desconsiderando os demais adversários, Freixo surgiu à frente de Crivella em regiões conquistadas por Pedro Paulo (PMDB) e Osório (PSDB). No segundo turno, esses candidatos declararam apoio a Crivella, que “virou” o voto em regiões populosas como Barra da Tijuca e Ipanema.

O caso de Ipanema é emblemático. No primeiro turno, Crivella obteve apenas 6,9% dos votos, contra 22% de Freixo e 25,9% de Osório. Na segunda fase da disputa, o candidato do PRB avançou 45 pontos percentuais, consolidando 52,2% da votação. Para comparação, o candidato do PSOL cresceu 25 pontos percentuais no mesmo local.

Enquanto Crivella avançou sobre a área em disputa e até sobre territórios onde Freixo teve votação superior a ele no primeiro turno, o candidato do PSOL não conseguiu converter nenhuma zona eleitoral do adversário a seu favor, mesmo em bairros da Zona Sul.

 

 

O globo, n. 30402, 01/11/2016. País, p. 06.