O Estado de São Paulo, n. 44958, 19/11/2016. Política, p. A7

Grandes obras de Cabral estão na mira do MP

Procuradores veem suspeitas em todos os maiores empreendimentos das gestões do ex-governador

Por: Roberta Pennafort

 

Todas as obras de grande porte contratadas pelo Estado do Rio durante os dois mandatos de Sérgio Cabral (2007- 2014) estão sob suspeita, informaram ontem os procuradores da República Lauro Coelho Junior e José Augusto Vagos, da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio.

Eles disseram haver fortes indícios de que a suposta prática de Cabral de cobrar propina de 5% de construtoras não se restringiu à Carioca Engenharia e à Andrade Gutierrez. Nessas empresas, concentraram-se as investigações que culminaram na prisão de Cabral e de outros nove integrantes de seu esquema, entre eles, dois de seus ex-secretários. Pelos menos mais quatro empresas da construção civil, Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS, já estão sendo investigadas. A distribuição de propinas instalada nos dois mandatos Cabral, segundo os procuradores, era denominada “taxa de oxigênio”.

“A inferência é de que todas as empreiteiras eram submetidas ao mesmo esquema”, disse Coelho Junior.

Entre as obras em que os investigadores julgam já ter conseguido comprovação de pagamento de propina estão a reforma do estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, a construção do Arco Rodoviário e o Programa de Aceleração do Crescimento das Favelas. Cada uma custou cerca de R$ 1 bilhão. Elas foram realizadas por consórcios formados ainda pela Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa, Delta e Oriente, além das duas já investigadas. Pelo menos R$ 224 milhões foram desviados.

“O esquema de cartelização mediante o pagamento de propinas iniciou-se a partir do momento em que Sérgio Cabral assumiu, em 2007, o cargo de governador do Rio”, declarou o juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal do Rio, na decisão pela prisão do ex-governador e os demais integrantes da organização criminosa da qual, segundo o MPF, ele era chefe.

Os crimes dos quais Cabral é suspeito – organização criminosa, corrupção passiva, fraude em licitação, cartel e lavagem de dinheiro – somam penas de pelo menos 50 anos de prisão. Os investigadores localizaram um recibo de R$ 2 milhões repassado ao PMDB para a campanha de 2010, que fazia parte do esquema de propina. O dinheiro pode ter sido usado para financiar a candidatura de Cabral.

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Procuradoria pede prisão de ex-primeira-dama

Por: Fábio Grellet


 

Investigada por suspeita de praticar lavagem de dinheiro e conduzida coercitivamente para prestar depoimento na última quinta-feira, a advogada Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ainda corre o risco de ser presa. O Ministério Público Federal havia pedido ao juiz Marcelo Brêtas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, a prisão temporária de Adriana. O juiz negou o pedido e determinou a condução coercitiva. Na quinta- feira, mesmo dia em que Cabral foi preso, Adriana foi levada à Polícia Federal, prestou depoimento e foi liberada.

O MPF recorreu da decisão de Brêtas e impetrou ontem novo pedido ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). O desembargador Abel Gomes, relator do recurso, negou o pedido de liminar, mas vai submeter o recurso à 1ª Turma Especializada da corte.

Escritório. A advogada é investigada por suposta lavagem de dinheiro. Outra suspeita sobre Adriana se refere a contratos firmados pelo escritório de advocacia da qual ela é uma das donas com empresas que prestavam serviço ao Estado durante a gestão de Cabral. Segundo a investigação, o escritório recebeu cerca de R$ 17 milhões em contratos com empresas que prestam serviços públicos.

Essa ligação do escritório de Adriana foi revelada pelo Estado em 2010. Na ocasião o jornal contou que, um mês depois de ter seu contrato como concessionário estendido até 2038, o Metrô Rio era representado em ação coletiva pelo escritório da então primeira-dama. Na ocasião, o Metrô Rio afirmou que o escritório de Adriana Ancelmo era um entre os 20 que prestavam assistência jurídica à concessionária.

A reportagem revelou ainda que Adriana representava em 28 processos o grupo Facility, uma das principais empresas fornecedoras do Estado. Na ocasião, o grupo empresarial afirmou que seu contrato com o escritório de advocacia foi firmado antes de Cabral.