O Estado de São Paulo, n. 44965, 26/11/2016. Política, p.A8

 

PF analisa gravações feitas por Calero

Andreza Matais e Marco Carvalho

 

 

Áudios apresentados por ex-ministro da Cultura de conversas com Temer, Geddel e Padilha passam por perícia prévia da Polícia Federal.

A Polícia Federal analisa as gravações apresentadas pelo ex-ministro Marcelo Calero como prova de que foi pressionado por integrantes do governo Temer a tomar uma decisão que favorecia interesses pessoais do agora ex-ministro Geddel Vieira Lima. Calero informou à PF que gravou o presidente Michel Temer, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel, além de outros servidores do Planalto. Ele entregou uma série de áudios que comprovariam suas acusações.

No depoimento à Polícia Federal, Calero afirmou ter recebido pressão de Temer para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador.

Conforme investigadores, o equipamento utilizado para as gravações não era profissional e a qualidade do áudio captado é ruim. Por essa razão, as gravações foram submetidas a um tratamento técnico. Segundo relatos, algumas conversas estão melhores e outras piores. Esse fato justifica a demora na análise do material.

Dessa forma, ainda não é possível dizer quais trechos do diálogo com o presidente Temer relatados por Calero em depoimento à PF foram captados pela gravação. A Polícia Federal só irá encaminhar as gravações para a Procuradoria-geral da República após verificar se o conteúdo confere com as informações prestadas pelo denunciante. São analisados se as conversas têm relação com os fatos narrados.

A PF não pode investigar políticos com prerrogativa de foro sem autorização do STF. Por isso, nessa etapa de análise a perícia não deve entrar no mérito de quem são as vozes.

Calero prestou depoimento à PF no sábado, 19 de novembro. Um delegado que atua em Brasília foi ao Rio de Janeiro para ouvir o ex-ministro.

Ele disse que recebeu três telefonemas do então ministro Geddel para tratar da liberação da obra de um prédio em Salvador, além de dois encontros. Com o ministro Padilha foram dois telefonemas e uma reunião.

Com o presidente Temer ele narrou três conversas. Duas delas no mesmo dia 17 de novembro, no Palácio do Planalto. Calero já havia se reunido com o presidente e retornou no final da tarde.

‘Especulação’. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que o episódio terá que ser analisado. “O processo está sob sigilo. Os boatos sobre se há ou não gravações serão apurados para verificar em que condições foram feitas (as gravações), se é que foram feitas”, afirmou Moraes em evento do PSDB, em Brasília.

Mais tarde, em São Paulo, o ministro voltou ao tema. “O próprio ministro Calero emitiu nota (mais informações nesta página) e não deixou claro se houve gravações. O primeiro ponto é: houve ou não? Houve de quem e o que fala? Antes disso é uma especulação muito grande”, afirmou.