O Estado de São Paulo, n. 44966, 27/11/2016. Política, p. A6

Temer avalia afastar auxiliares sob suspeita

Para evitar novos desgastes, ideia é criar código de conduta no governo para auxiliares investigados pela Comissão de Ética da Presidência. Sérgio Echegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, diz que estuda tecnologia para proteger presidente

Por: Vera Rosa

 

Brasília – O presidente Michel Temer decidiu mudar de estratégia para evitar que novos escândalos envolvendo auxiliares ampliem a crise política no governo. A ideia é que todo ministro sob investigação na Comissão de Ética da Presidência peça afastamento do cargo até a conclusão do processo.

A alternativa chegou a ser proposta por Temer ao então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, três dias antes de sua demissão. Geddel não concordou e acabou caindo após puxar a crise para o Palácio do Planalto.

Batizado de saída “a la Hargreaves”, numa referência a Henrique Hargreaves, então ministro da Casa Civil do governo Itamar Franco (1992-1994), o modelo está sendo planejado sob medida para blindar Temer e criar uma espécie de rede de proteção em torno do Planalto. Na administração de Itamar, que tomou posse após o impeachment de Fernando Collor (PTC-AL), hoje senador, Hargreaves foi acusado de desvio de verbas públicas. Pediu exoneração do cargo enquanto transcorriam as investigações contra ele e voltou à chefia da Casa Civil três meses depois, quando ficou provado que as denúncias eram infundadas.

Temer quer seguir esse exemplo como código de conduta de sua gestão. Em conversas reservadas, ele tem dito que está “cansado de apanhar” e vem pagando “um preço muito alto” por erros e irregularidades cometidas por ministros.

Na tentativa de mostrar que não é conivente com falcatruas, o presidente conhecido por nunca demitir ninguém já avisou que considera “adequado” o afastamento de um auxiliar no período das investigações na Comissão de Ética. O colegiado não tem poder de punir, mas apenas de recomendar ao chefe do Executivo penas que vão da advertência à exoneração.

No Planalto, a avaliação é de que a demissão de Geddel ameniza, mas não acaba com a crise. A preocupação, agora, é com as votações no Congresso e com os reflexos da turbulência política na economia.

Odebrecht

Outro ponto é que a ameaça das delações de executivos da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Lava Jato, também ronda o Planalto. É por isso que a saída de Geddel não tira a crise de cena.

Mesmo assim, no diagnóstico de interlocutores do presidente, foi um gesto necessário – embora atrasado – para salvar o governo, alvejado após o depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal.

O diplomata disse que Temer tentou fazer com que ele “interferisse indevidamente” para que a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), barrando a construção do prédio La Vue, em Salvador, fosse submetida à Advocacia Geral da União (AGU).

Comunicação

A crise também está fazendo o governo reavaliar a sua política de comunicação. Há divergências entre o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, sobre o novo modelo a ser adotado. A percepção dos próprios aliados é a de que Temer vem perdendo a batalha da comunicação por não dar respostas imediatas à agenda negativa e muito menos conseguir criar uma marca de governo.

Na tentativa de mostrar que não compactua com irregularidades, o presidente disse que vetará a proposta de anistia para caixa 2 eleitoral, caso seja aprovada pelo Congresso. A intenção só foi manifestada após o tema ser rechaçado pela sociedade e virar alvo de uma campanha contrária nas redes sociais.

Em almoço no Palácio da Alvorada, na sexta-feira, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Aécio Neves (MG), Temer ouviu que o PSDB foi o primeiro a defendê-lo nessa temporada de acusações. Nos bastidores, houve quem lembrasse que a oposição, apesar de minoritária, tem conseguido fazer mais barulho no Congresso do que os próprios aliados do governo.

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General busca 'solução' para evitar gravações no gabinete presidencial

Sérgio Echegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, diz que estuda tecnologia para proteger presidente

Por: Tânia Monteiro

 

BRASÍLIA - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, disse ao Estado que está estudando “soluções tecnológicas” para “tentar proteger” o presidente da República de tentativas de gravações das conversas com ele, em seu gabinete, como teria sido feito pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero. 

“Nunca se pensou nisso antes, pelo ineditismo, que pode ter ocorrido, que seria um ministro de Estado, que além do mais é servidor de uma carreira de Estado, gravar o presidente da República”, afirmou o ministro, responsável pela segurança do presidente. “Se isso de fato aconteceu, é um escândalo e é inadmissível.”

Etchegoyen trata o episódio como um exemplo de “quebra de ética profissional”. 

De acordo com o ministro, “o presidente Temer ficou indignado, surpreso e estupefato com a notícia que recebeu de que teria sido gravado por um de seus ministros”. “Ainda mais quando o ministro é um servidor de uma carreira de Estado, tão sensível quanto à diplomática.” 

Segundo Etchegoyen, é dever do chefe de GSI encontrar formas de proteger o presidente da República. Ele disse que “não entra no mérito” da discussão sobre o assunto tratado nas conversas entre Temer e os ministros. “Meu problema é a segurança do presidente.” 

As notícias que chegaram ao Planalto é de que Temer foi gravado por Calero na segunda vez que o recebeu em seu gabinete, no dia 17, véspera de o então ministro pedir demissão. O processo de investigação do ex-ministro Geddel Vieira Lima na Polícia Federal está sob sigilo.

‘Câmeras’. Segundo Etchegoyen, outro “problema grave” é que “inacreditavelmente” o Palácio do Planalto não tem câmeras de segurança, e isso deixa “vulneráveis” as instalações. Elas foram retiradas por ocasião da reforma do prédio, em 2010, durante o governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva, e nunca mais foram reinstaladas. 

“Nós não tememos imagens. Vamos trazer de volta um sistema de câmeras completo”, avisou ele, ao informar que está havendo uma “reestruturação do seu setor, com instalação de catracas e crachás especiais em todo o palácio”.

O ministro disse que ainda não sabe exatamente o que poderia ser feito tecnologicamente para evitar a repetição do que chamou de “episódios desagradáveis” como este. “Estamos estudando soluções com mais tecnologia, sem que seja invasivo ao presidente”, afirmou. “Todas as normas têm sido cumpridas e, aparentemente, ele (o ex-ministro) entrou com um equipamento para gravação escondido.” Para Etchegoyen, “não se revista” uma pessoa convidada para se reunir com o presidente. “Seria constrangedor.”