Título: Injeção de R$ 3,5 bi
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2011, Economia, p. 9

O novo salário mínimo de R$ 622,73 vai injetar pelo menos R$ 3,5 bilhões por mês na economia a partir de janeiro, quando começa a ser pago. Desse total, um volume equivalente a R$ 1,37 bilhão irá para o bolso dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Nos cofres da Previdência Social, o aumento de 14,3% representará gastos adicionais de R$ 17,5 bilhões no ano. Os efeitos na economia, no entanto, são uma via de duas mãos, avaliam os especialistas.

A injeção de dinheiro vai estimular o consumo num momento de desaceleração da atividade, mas também pressionará a inflação. Eles lembram que os beneficiados diretos com o aumento significativo do mínimo são as parcelas da população que compram bens de menor valor agregado, como alimentos e alguns serviços, não favorecendo a indústria que fabrica produtos mais caros.

"Um aumento dessa magnitude numa economia que não apresenta produtividade do mesmo nível resulta em pressão por todos os lados", afirma o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos. "O país poderá continuar crescendo, mas a pressão da inflação se materializa", disse. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o novo valor vai impulsionar os preços dos serviços, pois muitos deles são sensíveis à elevação do piso salarial do país. O impacto é direto sobre os gastos com empregados domésticos, higiene pessoal e serviços de jardinagem, limpeza e conservação, entre outros.

Mesmo não sendo atrelada ao salário mínimo em sua maior parte, a indústria, o setor que mais tem penado com a desaceleração da economia, também será atingida pela maior pressão nas futuras negociações salariais, avalia a economista-chefe do Royal Bank of Scotland, Zeina Latif. "Não vejo esse aumento como bem-vindo neste momento, pois pode representar custos para as empresas, que já estão sofrendo por causa da piora do cenário externo", disse.

Forte impacto O economista Alex Agostini lembra que o aumento do salário mínimo tem impacto forte sobre os gastos das famílias com empregados domésticos (veja quadro). Hoje, a despesa mínima é de R$ 723,65, considerando o custo mensal com os encargos do INSS (de 12%), 13º e férias. Se o empregador depositar o FGTS de 8%, que é opcional, essa conta chega a R$ 767,25 por mês, sem considerar o transporte. Com o novo mínimo, o empregado vai custar R$ 826,85 por mês sem FGTS ou R$ 876,67 com o benefício.

Impacto no orçamento (Em R$ ao mês)

Veja quanto custará o empregado doméstico com o reajuste do piso salarial

Hoje Salário - 545,00 INSS (12%) - 65,40 13º e férias* - 105,98 INSS sobre 13º e férias - 7,27 Com FGTS (8%, opcional) - 43,60

TOTAL - 767,25

A partir de janeiro Salário - 622,73 INSS (12%) - 74,73 13º e férias* - 121,08 INSS sobre 13º e férias - 8,31 Com FGTS(8%,opcional) - 49,82

TOTAL - 876,67

* Valores levam em conta o custo proporcional mensal, embora sejam pagos de uma vez.