O Estado de São Paulo, n. 44968, 29/11/2016. Política, p. A5

Anti-Dilma, Bicudo adere a ‘Fora, Temer’

 
Pedro Venceslau
Ricardo Galhardo
Valmar Hupsel Filho

 

No mesmo dia em que o PSOL protocolou o primeiro pedido de impeachment da oposição contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara dos Deputados, o jurista Hélio Bicudo, um dos autores da ação contra a presidente cassada Dilma Rousseff, afirmou ontem ao Estado apoiar a iniciativa. O PSOL apresentou o pedido com base em denúncias feitas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero contra o ex-chefe da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.

“Se for um pedido com contorno jurídico consistente, eu acompanho. A questão do impeachment é política com nuances jurídicas. A materialidade é questão secundária. Trata-se de um remédio político que deve ser aplicado”, disse Bicudo.

Ex-deputado federal, Bicudo foi filiado ao PT e deixou a legenda em 2005 – ano do mensalão.

No ano passado, ele se uniu ao ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr. e à advogada Janaína Paschoal na elaboração do pedido de impeachment de Dilma.

“A democracia já estava ferida com a saída da Dilma. Por que, então, manter o Michel Temer? Todos sabem que ele não é de nada”, afirmou Bicudo.

O PSOL recorreu às denúncias de que Calero teria sido pressionado por Geddel para solucionar impasse com um órgão federal de proteção do patrimônio na construção de um edifício em Salvador. Para o líder do partido na Câmara, Ivan Valente (SP), Temer cometeu “crime de responsabilidade” ao se envolver na questão.

Em depoimento à Polícia Federal, Calero acusou Temer de pressioná-lo para atender a interesses privados do colega. O líder do PSOL afirmou que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deveria analisar com cuidado o caso antes de decidir se aceita ou não a denúncia.

“A possibilidade de a insatisfação popular crescer é grande.” Ontem, parlamentares do PT e PCdoB protocolaram na Procuradoria- Geral da República (PGR) uma representação também contra Temer, que acusam dos crimes de concussão e improbidade administrativa.

A bancada do PT no Senado articula com outros partidos de oposição um segundo pedido de impeachment. A ação deve ser assinada por juristas e representantes da sociedade civil.

 

Protestos. Grupos que organizaram as manifestações pelo impeachment de Dilma disseram que a entrevista concedida por Temer anteontem, na qual ele prometeu vetar eventual projeto de anistia ao caixa 2, não vai tirá-lo do foco. “De forma alguma o governo sai do radar. Temer estava cercado por duas pessoas que estavam totalmente imbuídas de tentar a anistia e paralisar o Judiciário”, disse Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, em referência a Renan Calheiros (PMDB-AL) e Maia, presidentes do Senado e da Câmara.

Já a líder do Nas Ruas, Carla Zambelli, disse que o discurso tirou “um pouco” o presidente da mira. “Vamos ficar de olho para ver se ele mantém a palavra.” Os grupos marcaram ato na Avenida Paulista para o dia 4.

Líder do governo no Congresso, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) desdenhou da iniciativa do PSOL. “Não tem nenhum cabimento jurídico, é uma chicana, é uma manobra política.” Em relação às manifestações, afirmou que “são legítimas”.

“Elas podem ocorrer, em ocorrendo o governo deve levar em conta.” / COLABORARAM ISADORA PERON e JULIA LINDNER

 

Gravações

A Procuradoria- Geral da República pediu que a PF envie as gravações feitas pelo ex-ministro Marcelo Calero com o ex-ministro Geddel Vieira Lima e com o presidente Temer.