O Estado de São Paulo, n. 44964, 25/11/2016. Política, p.A5

 

Presidente admite conversa, mas nega acusações

Tânia Monteiro e Carla Araújo

 

 

Em comunicado lido pelo porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, presidente diz que agiu para ‘solucionar impasse na sua equipe e evitar conflitos’. 

O presidente Michel Temer rechaçou ontem à noite a acusação de que teria pressionado o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para liberar uma obra em Salvador.

Segundo comunicado lido pelo porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, Temer admitiu ter conversado “duas vezes” com Calero para “solucionar impasse na sua equipe e evitar conflitos entre seus ministros”.

A obra em questão é o empreendimento La Vue Ladeira da Barra, onde o ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, afirma ter comprado um aparamento. O imóvel fica próximo a patrimônios históricos da capital baiana e teve a autorização para construção anulada pelo Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

Temer disse também, segundo o porta-voz, que “jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções”.

Parola declarou ainda que o presidente considerou “estranha” a afirmação do ex-ministro “de que o presidente o teria enquadrado ou pedido solução que não fosse técnica”. Em seguida, disse que “surpreende” ao presidente da República, “boatos de que o ex-ministro teria solicitado uma segunda audiência, na quinta-feira, dia 17, somente com o intuito de gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para posterior divulgação”.

Na ocasião, Calero já havia se reunido com Temer à tarde e, à noite, pediu novo encontro, quando o teria gravado. Segundo o Estado apurou, Calero também gravou conversas com o ministro- chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o próprio ministro Geddel. 

Influência. Ao repudiar as acusações de que teria tentado influenciar o ex-ministro na liberação da obra nas proximidades de área tombada em Salvador, para atender pedido de Geddel, o porta-voz disse que o presidente “sempre endossou caminhos técnicos para solução de licenças em obras ou ações de governo”.

Salientou ainda que “reiterou isso ao ex-ministro em seus encontros e reafirmou essa postura ao atual ministro da Cultura Roberto Freire, que recebeu instruções explícitas para manter os pareceres técnicos, que, reitere- se, foram mantidos”.

Temer ainda elogiou a atuação de Calero como ministro. No comunicado, disse que ele “sempre teve comportamento irreparável enquanto esteve no cargo”.

Trecho

“O presidente trata todos seus ministros como iguais. E jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções. Assim procedeu em relação ao ex-ministro da Cultura. É a mais pura verdade que o presidente Michel Temer tentou demover o ex-ministro de seu pedido de demissão.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, EM NOTA.