O Estado de São Paulo, n. 44964, 25/11/2016. Política, p.A5

 

Oposição já vê motivo para impeachment

Daiene Cardoso e Isabela Bonfim

 

 

 

As bancadas da oposição na Câmara e no Senado já falavam em impeachment na noite de ontem, após a revelação do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal apontando pressão do presidente Michel Temer para resolver a liberação do empreendimento imobiliário em Salvador onde o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, diz ter comprado apartamento.

O vice-líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS) vê desvio de finalidade, uso do cargo de presidente da República para objetivos privados e crime de responsabilidade. “Isso é passível de impeachment.” O petista afirmou que a bancada ainda avaliará medidas jurídicas.

O vice-líder da bancada do PMDB, Carlos Marun (MS), disse não crer que os fatos tenham ocorrido da forma relatada por Calero. “Trata-se de um homem magoado e a mágoa o está fazendo ter uma reação raivosa”, afirmou o deputado. O peemedebista observou que está convicto de que o ex-ministro mentiu. Sobre um possível impeachment, Marun classificou a hipótese de “loucura”.

O líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou que a assessoria jurídica da bancada vai verificar que medidas pode tomar contra a declaração do ex-ministro. “É o presidente da República usando o seu cargo para pressionar um ministro por interesses particulares.

Ele agiu como um sócio de Geddel. Foi um depoimento na Polícia Federal, não tem conversa de ouvi dizer”, afirmou. Para Lindbergh, as declarações são graves e configuram tráfico de influência por parte de Temer. Questionado, ele respondeu que um pedido de impeachment é possível.

O líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), disse que as bancadas na Casa e no Senado vão continuar atuando para apurar o caso, “que agora ficou muito mais grave, com o envolvimento de Temer nas denúncias”. “Identificado o crime de responsabilidade, o caminho é a abertura de um processo de impeachment de Temer.

O governo Temer derrete”, disse em nota. O líder da Rede na Câmara, Alessandro Molon (RJ), sugeriu a convocação de Calero para confirmar as denúncias.