Marcondes Ferraz paga fiança de R$ 3 milhões

Cleide Carvalho

04/11/2016

 

 

Empresário deixa cela da PF em Curitiba, mas não pode sair do país

 

Preso no último dia 26, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, o empresário Mariano Marcondes Ferraz pagou fiança de R$ 3 milhões e deixou a cela da Polícia Federal em Curitiba no fim da tarde de ontem. Ele está proibido de deixar o Brasil. Também não pode mudar de endereço sem aviso prévio à Justiça.

A soltura de Marcondes Ferraz foi acordada numa audiência de custódia realizada com o juiz Sérgio Moro. A defesa do empresário propôs o pagamento da fiança. O juiz estabeleceu fiança de R$ 3 milhões, equivalente ao valor da propina que o empresário teria pagado ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Vinculado aos grupos Trafigura e Decal, o empresário é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro e foi alvo de prisão preventiva. Segundo despacho de Moro, Marcondes Ferraz teria pagado US$ 868 mil de propina, entre 2011 e 2013, a Costa, decorrente de contratos com a estatal. Os depósitos foram feitos em contas no exterior, em nome de genros do ex-diretor da Petrobras. Delator da Lava-Jato, Paulo Roberto Costa confessou os crimes.

Marcondes Ferraz tem nacionalidade brasileira e italiana e mora no exterior, onde trabalha. No despacho, Moro afirma que o empresário terá de resolver por “sua conta” a questão do trabalho, pois se permanecesse preso a dificuldade seria ainda maior.

Marcondes Ferraz mora em Londres desde 2015. Ele ficou preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, e prestou depoimento na última segundafeira. Na audiência de custódia com Moro, admitiu ter pagado propinas e se dispôs a colaborar com a Justiça.

A prisão preventiva fora decretada pelo juiz Sérgio Moro para garantia de aplicação da lei penal. Os procuradores argumentaram que, como tem dupla nacionalidade e bastante dinheiro em contas no exterior, poderia deixar o Brasil e não retornar mais.

 

PROPINA DEPOSITADA NA SUÍÇA

Costa confirmou que Marcondes Ferraz ofereceu propina para que a Trafigura prestasse serviços à Petrobras. O genro do ex-diretor da Petrobras, Humberto Mesquita, afirmou que o empresário depositava, a cada trimestre, US$ 70 mil na conta Ost Invest & Finance, no Banco Lombardier Odier, na Suíça.

O delator Fernando Baiano disse que participou de jantar com Ferraz e Costa. Segundo ele, a Trafigura pretendia renovar contrato de aluguel de tanques na Refinaria Abreu e Lima, com reajuste de preços.

Ferraz é diretor executivo na Trafigura desde 2007 e, em 2014, foi alçado ao conselho de administração da empresa. Os negócios do grupo com a Petrobras são bilionários.

A Trafigura fechou contratos de afretamento de navios com a Petrobras no valor de US$ 169 milhões entre 2004 e 2015. Há ainda US$ 8,6 bilhões em contratos de compra e venda de derivados de petróleo entre as duas empresas, firmados entre 2003 e 2015.

Marcondes Ferraz também representa a Decal, que mantém contrato de serviço de armazenagem no Porto de Suape, em Pernambuco.

 

 

O globo, n. 30405, 04/11/2016. País, p. 06.